(sem título)

Porque

Amor meu, minhas penas, meu delírio,

Aonde quer que vás, irá contigo

Meu corpo, mais que um corpo, irá um’alma,

Sabendo embora ser perdido intento

O de cingir-te forte de tal modo

Que, desde então se misturando as partes,

Resultaria o mais perfeito andrógino

Nunca citado em lendas e cimélios

Amor meu, punhal meu, fera miragem

Consubstanciada em vulto feminino,

Por que não me libertas do teu jugo,

Por que não me convertes em rochedo,

Por que não me eliminas do sistema

Dos humanos prostrados, miseráveis,

Por que preferes doer-me como chaga

E fazer dessa chaga meu prazer?

(Carlos Drummond de Andrade)

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