é que diálogo não se faz só do falar

eu conversava com o fer sobre o meu incômodo com a ausência de diálogo entre as pessoas e me dei conta de uma coisa interessante: há quem pense que diálogo é falar ou escrever. não é, não. dialogar é abrir espaço para a dúvida, para a pergunta, para o diferente; é também admitir mesmo que remotamente mudar de idéia, estar equivocado.

no mega-questionário que respondi ali embaixo lembrei dessa questão do diálogo versus a verborragia. eu sempre falei muito, muitíssimo, o silêncio me incomodava. só depois da terapia (é, minha vida se divide em antes e depois da terapeuta-maravilhosa-liliana) é que percebi que eu falava muito com as pessoas mas dialogava pouco. até porque eu falava pra ouvir minha própria voz e não pra trocar alguma coisa. ouvi uma história com a qual me identifiquei bastante: no meio de uma “conversa” com outra pessoa inteligente, esclarecida, essa pessoa vira pro fulano e diz “você já reparou que tem sempre que dar a última palavra?”. eu era 100% assim, sem perceber: já tinha opinião formada, estava pouco interessada em pensar mais um pouco e tinha que justificar meu ponto de vista sempre, mostrando pro outro que eu tinha MOTIVOS pra pensar o que pensava.

posso dizer com felicidade que mudei muito nesse aspecto. não só passei a falar menos (em outras palavras, aprecio os silêncios e as pausas) como passei a não ter necessidade de responder a todos e muito menos de explicar minhas opiniões. já não tenho mais desejo de mostrar que sei ou que estou certa, isso se tornou muito menos importante que os diálogos de fato — eu gosto de ouvir e ler os outros. não importa o quanto seja igual ou diferente de mim, o fato é que não preciso manifestar meu desacordo ou anuência e nem explicar pra ninguém porque é que “eu estou certa”. até porque eu não estou mais certa de nada, me entreguei à fluidez que tanto me caracteriza. parei de querer ter respostas e explicações racionais e convicentes pra tudo.

uma vez o gabis disse que gostava do meu texto porque ele convidava ao diálogo; em outras palavras, dava vontade de responder, de dizer o que você acha. fiquei muito feliz na época e fico ainda mais feliz hoje quando olho meus comentários e percebo que não tenho cedido à tentação de argumentar com as pessoas. leio absolutamente tudo que escrevem aqui e não me sinto normalmente impelida a responder, basta ler e pensar.

a mesma “evolução” se deu nas conversas: consigo hoje ouvir opiniões completamente diferentes das minhas sem me sentir pessoalmente agredida; não tenho mais necessidade de replicar e argumentar, a menos que o propósito da conversa seja esse. sempre que possível me atenho a contribuir com minha visão, procurar agregar e não bater o pé. fico feliz demais em perceber que a teimosia que existia em mim vem desaparecendo aos poucos, enquanto a curiosidade e o espanto pelo diferente aumentam.

o efeito colateral negativo é que perdi a paciência com “monologadores” que acham que estão conversando e os deixo, literalmente, falando sozinhos. e o silêncio, neste caso, não é castigo — é a melhor resposta, pois é exatamente o que eles esperam de nós todos.

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