as coisas mudam e eu também

percebi que as pessoas visitam e comentam muito menos o meu blog depois que parei de falar da minha vida pessoal estilo “querido diário”.

é ruim não ter mais tanto diálogo (seja em comentário ou por email), não nego, mas fiz uma escolha e acho que foi a mais acertada. tenho cá pra mim que a maior parte das pessoas que liam este blog na época do “querido diário” não nutriam sentimentos exatamente positivos a meu respeito. em outras palavras, acho que muitas das pessoas que liam isso aqui não gostavam de mim. e por que alguém que não gosta de mim vai ler meu blog pessoal? ah, muitos motivos, pequeno gafanhoto. as pessoas são estranhas (e más, mesmo que escondam isso lá no fundo).

mas antes de expor minhas teorias a respeito, é importante declarar que fiz uma auto-análise e investiguei meus próprios motivos. eu também leio blogs de pessoas que considero filhosdaputa, idiotas, sem noção, fúteis e chatos. mas não leio os que se encaixam nessa categoria e não falam da própria vida… interessante, não?

dito isso, acho que posso dizer o que acho que motiva essa mania esquisita: o desejo de comparação. não investiguei mais a fundo os motivos escondidos disso, mas creio que nos dá prazer olhar o outro como uma forma de espelho, pra que possamos nos enxergar.

vejam que eu não disse enxergar melhor, porque é aí que mora o truque: se não conseguimos ver em nós o que é melhor e pior, essa reflexão não serve de nada, aliás, atrapalha. quando nos sentimos bem percebendo defeitos alheios (ou o que interpretamos como defeitos…) tem alguma coisa errada. não quero dizer com isso que defendo o maldito “olhar da diversidade” que acha tudo “válido”, pelo amor de deus! que existam os defeitos, as feiúras e os problemas, mas que não seja a constatação disso no outro que nos faça sentir mais perfeitos, bonitos ou resolvidos.

o inverso disso (e tão ruim quanto) é achar que tudo nos outros é melhor, mais perfeito e resolvido enquanto o que é nosso é uma merda. qual é o problema com uma pitada de realidade? por que não aproveitar esse desejo incontrolável de se comparar com os outros para nos enxergarmos um pouco melhor?

bem, graças a um ex estupidamente adepto do politicamente correto, passei um tempo achando que era errado ver defeitos nas coisas e nas pessoas. felizmente me livrei dele e também me livrei da culpa de ser melhor que outras pessoas em vários aspectos. é legal poder olhar outras pessoas e outras vidas e ver que fiz escolhas melhores, trilhei caminhos mais acertados e tive sucesso.

superei uma parte do problema, mas há um lado que ainda não resolvi: é difícil ver e admitir meus próprios defeitos. por saber o quanto me falta neste aspecto, fico atenta às minhas comparações ou reflexões, se me permitem. procuro ver o que no outro me causa incômodo, raiva e principalmente inveja (e se você tem facilidade de reconhecer que está com inveja, sorte a sua; é mais fácil lidar com ela assim desnuda). algumas vezes consigo perceber que no outro há alguma coisa que me falta, e dói; outras vezes só vêm os sentimentos ruins e faço piadas ou diminuo o outro pra me sentir melhor (as if…); outras pouquíssimas vezes transformo o que descobri em motivação pra ser melhor.

quero crer que tenho muitos anos de vida ainda pela frente e que, com a devida dedicação, vou aprender a lidar com este lado difícil de ser humano; quero também crer que fiz pouco mal aos que me serviram inadvertidamente como espelho; e espero mais que creio que me perdoem os que magoei por raiva ou inveja. já perdoei a mim mesma, percebendo que sou apenas humana.

mas dei voltas demais pra dizer algo simples: não esperem mais de mim posts do tipo “querido diário”. parei com esse estilo, e não foi por medo das “energias negativas” dos leitores que não gostam de mim (embora eu ache que ter medo disso é prudente), mas porque hoje meu cotidiano é muito menos rico que minhas idéias, opiniões, sentimentos e experiências.

que diferença faz que hoje eu fui à manicure e pintei a unha com esmalte da l’oreal ou que almocei salada com caneloni? prefiro gastar 15 minutos aqui digitando esse post elucubrante, que começou com algo como “por que todo mundo amava falar comigo no blog quando eu comentava sobre esmalte e ninguém comenta nada quando falo de idéias?”

eu poderia falar do trabalho ou do preço dos legumes orgânicos no pão de açúcar (e vez em quando vou falar disso, é claro, pois estes assuntos ainda me interessam) mas tenho preferido falar de coisas menos ordinárias. que ninguém se ofenda: coisas ordinárias são essenciais à vida de qualquer um e eu amo a todas elas com fervor. mas esse tempo que dedico a escrever aqui e (sim, é pra isso que serve esse blog!) procurar interlocutores não há de ser mais usado pra contar o que comi ontem. a não ser que haja pelo menos uma receita pra compartilhar 🙂

sim, mudei. coisas e pessoas ficaram pra trás na mudança, e certamente foi para o bem. mudei o jeitão do blog, mas acreditem: continua a esperança de que alguém leia e resolva me usar como espelho de novo, dessa vez com propósitos um tiquinho mais nobres.

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  1. Tem gente que acha que livro de auto-ajuda de cu é rola, mas eu leio tá!..

    Então… eu estou lendo um livro chamado as sete faces da intimidade… e calha com o que você comenta neste post…

    As coisas que você postava antes eram fatos sobre você, o que dá a sensação de intimidade maior do que uma simples conversa cabeça sobre o último livro do [coloque o nome de um pensador qualquer].

    É a diferença entre o bom dia, como vai você? E ao invéz de receber um “tudo bem” clichê receber a resposta verdadeira…

    É interessante parar pra pensar na minha relação com o seu blog, que sempre foi de amor e ódio visto que nunca lhe conheci pessoalmente e não troquei e-mails com você (mas sempre mando um feliz aniversário =D ). O que acontece é que quando os posts rareiam eu fico com raiva ou quando descubro que, depois do hiato de mais de uma semana, você posta 100 mil posts e-nor-mes no mesmo dia e eu quero lê-los todos e não tenho tempo…

    Mas você tem idéias boas, e eu não consigo te odiar por muito tempo (mesmo por que eu odeio o blog e não a pessoa!) então são mais de 5 anos lendo e lendo… por que nos primeiros posts, naqueles da época obscura, eu procurava intimidade e acabei achando o seu blog, e me tornei íntima dele, e tive um blog onde eu me expunha tanto quanto você, até perceber que a exposição é perigosa e hoje em dia querer o anonimato de um nickname.

    Enrolei e enrolei pra falar que tô sempre lendo e comentando pouco… e que você tem falado, com bastante constância, que vai estar ocupada, vai estar fora, que não terá tempo e que não vai postar tanto… é a lei da ação e reação rs =)

    Beijinho Zel!

  2. só um comentário… 🙂

    eu não conheço você e nem sei dizer através de qual blog cheguei aqui.

    mas gosto de algumas coisas que vejo, principalmente seus relatos de viagens, alguns links que você posta, só isso.

    alguns comentários que fiz foram publicados, outros não…

    mesmo assim, sempre voltei, e pelo mesmo motivo que comecei a passar por aqui no começo. pra achar alguma coisa legal, uma sugestão de viagem, uma nova leitura.

    e com toda a sinceridade, não me importa o que você é, faz, ou no que acredita ou deixa de acreditar.

    um abraço!

  3. Zel querida!

    Adoro seu blog! Suas idéias, a forma inteligente com que vc escreve e a forma lúcida com que expõe suas opiniões.

    As vezes venho aqui, timidamente, nos comentários para expor meus ponto de vista, e ADORO estes seus posts “menos ordinários” e lógico mais pensantes…..

    ADORO estes seus posts ( de novo! )e sempre que os leio, corro discutí-los com meu marido, o que nos rende horas de discussões inteligentes, como por exemplo aquel posts onde vc “ensinava” a ler – método este que já estamos colocando em prática.

    Mas, de verdade, sempre achei que nesta nova forma de “postar” vc não estava preocupada com as opiniões dos outros, sendo assim, eu não me encorajava em emitir minhas opiniões.

    Agora, que já sei que vc continua querendo dialogar ( ah!ah!ah! ) prepare – se ……

    Beijos grande e continue sempre “lúcida” neste mar de escuridão e imbecilidade que nos cerca

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