fabricando

o bebê mais feliz do pedaço

July 13, 2010 · 3 Comments

ganhei o livro the happiest baby on the block (versão em português aqui) de uma amiga, e apesar de toda minha resistência com livros sobre maternidade, parto e educação de crianças, comecei a ler. e amei, totalmente. recomendo muito pra todo mundo que vai ter bebês (mas tem que ler antes de nascer, senão não serve pra muita coisa, viu?)

(aqui um resumo do livro. e tem DVD no brasil, que parece ser muito bom)

vou fazer um resumo tosco (até porque não li tudo ainda, falta 1/3 pra acabar), antecipando que o livro fez todo sentido pra mim. tenho resistência às formuletas americanas (sempre tem um acrônimo, número de passos X, etc.), então procuro sempre entender o que está por trás disso tudo. esse livro me convenceu bastante, toda explicação fez sentido.

a idéia é simples: os bebês humanos nascem prematuros. eles precisam sair da barriga antes do tempo porque nossa cabeça (que abriga nosso órgão mais importante) está grande demais para passar pelo canal vaginal no momento do nascimento. essa característica da nossa espécie faz sentido pra mim, evolutivamente – vivemos em comunidade, e temos condições de cuidar de prematuros, diferente dos outros animais. nossa evolução otimizou a questão tamanho do cérebro/momento do nascimento. então toda questão de como cuidar de bebês recém-nascidos gira em torno do que ele chama de “quarto trimestre”, ou seja: aqueles 3 meses que faltam para o bebê realmente estar apto a viver do lado de fora da barriga.

durante este quarto trimestre, o importante é manter o bebê confortável, alimentado e feliz, como ele estava no período dentro da barriga. o autor é contra a idéia de que manter o bebê no colo e confortá-lo constantemente “estraga” o bebê. segundo ele, nos 3-4 primeiros meses é impossível “mimar” o bebê, pois ele não tem ainda discernimento para entender que está sendo mimado. tudo o que ele precisa é se sentir confortado no mundo exterior. daí a idéia de emular o máximo possível o ambiente uterino, usando as técnicas que ele sugere.

achei muito interessante o seguinte: ele elaborou sua teoria com base em experiências reais e estudos feitos em países menos desenvolvidos nos quais, curiosamente, as mães não têm problemas com bebês que choram insistentemente. ele notou que várias culturas mais “primitivas” têm bebês mais calmos e que não dão trabalho às suas famílias. quais são os pontos em comum entre elas? principalmente a proximidade física entre a criança e algum adulto (não necessariamente a mãe, aliás). ele menciona o uso de slings ou outras formas de manter o bebê sempre próximo do corpo, e balançando pra lá e pra cá.

tem mais: ele destaca que nem todos os bebês reagem da mesma forma neste quarto trimestre. os bebês que choram mais são os que têm mais dificuldade de adaptação ao mundo exterior, são mais sensíveis ou temperamentais. essa variação de personalidade ou temperamento é absolutamente normal, e não tem nenhuma correlação com as tais cólicas. desconfortos gastro-intestinais são comuns em todos os bebês, mas nem todos choram sem parar. qual é a diferença? a reação única daquele bebê ao quarto trimestre, a forma como ele reage a este período final de formação fora do útero.

bom, e com base nisso tudo, ele ensina 5 “truques” (5S) para acalmar e confortar bebês, baseados na idéia de emular o ambiente uterino. são eles:

swaddling: é a famosa técnica de enrolar o recém-nascido bem apertado. confesso que tenho resistência a ela, porque parece que o bebê fica desconfortável, pobrezinho. no entanto, tudo que li a respeito diz exatamente o inverso: os bebês gostam do “aperto”, sentem-se mais seguros e mais próximos da posição uterina (faz sentido, convenhamos). além disso, nos primeiros meses de vida sua função motora é bastante descontrolada, e ficar solto demais deixa o bebê nervoso. o livro traz técnicas de enrolar o bebê, mas imagino que sua mãe ou sua avó podem ensiná-la rapidamente a fazer a tal trouxinha 🙂

side/stomach position: manter o bebê na posição de lado ou de bruços enquanto está no colo é mais confortável e faz com que ele se sinta mais seguro. (aliás, não sabia nada sobre isso, mas aprendi que a posição recomendada para os bebês dormirem é de barriga pra cima, nunca de bruços). parece que funciona assim: a posição de barriga pra cima “liga” um dos reflexos básicos de recém-nascido, o de cair. em outras palavras, o bebê se sente mais vulnerável de barriga pra cima enquanto acordado, ele tem medo. por isso ele recomenda mantê-lo no colo de lado (nos seus braços, com a cabeça pro lado de fora) ou com os membros soltos ao longo do braço, com a barriga apoiada no seu antebraço e a cabeça na palma da sua mão. depois de acalmado, o bebê vai ficar tranquilo pra dormir de barriga pra cima.

shushing: basicamente é fazer barulho de SHHHHH 🙂 achei incrível, mas parece que muitos bebês se acalmam com barulhos brancos bem altos, tipo secador e aspirador de pó. a explicação faz sentido pra mim: o bebê ficou meses dentro do útero ouvindo basicamente esse barulho branco de fundo (sangue fluindo e outros barulhos orgânicos). todo barulho externo era abafado e constante, seja porque ele estava imerso em líquido ou porque seus tímpanos ainda não tinham (e não tem, até o final do quarto trimestre) a mesma formação que o nosso. eles ouvem de forma diferente e principalmente não estão acostumados ao silêncio. o autor não acha que é coincidência que os bebês choram mais à noite, quando tudo está silencioso e calmo demais. o barulho de SHHHH deve ser feito para acalmá-lo, e não pode ser baixinho. o seu SHHH deve no mínimo se equiparar ao volume do choro do bebê, para que ele ouça perfeitamente e se sinta confortado pelo barulho familiar. e não se preocupe, que o bebê não vai achar que é falta de educação da sua parte fazer SHHH pra ele 😀

swinging: balançar, basicamente. mas atenção: não adianta balançar de levinho, tem que ser um balanço vigoroso. não é obviamente pra chacoalhar a criatura, né, mas não dá pra ser suave demais, ou não faz efeito. lembre-se que o bebê passou meses dentro da barriga balançando pra lá e pra cá, no ritmo do seu corpo. daí o uso do sling ou coisa parecida pra acalmar o bebê e fazê-lo sentir-se “em casa”.

sucking: bom, esse é simples, um dos instintos mais básicos do recém-nascido, sugar. tem bebês que já sugam os dedinhos dentro da barriga, e ele vai se sentir feliz quando tiver o que sugar, de preferência o seu peito 😀 pode ser chupeta, o seu dedo ou o peito, tanto faz. ele chama esta última técnica de algo como “a cereja do bolo”, ou seja, o último recurso de acalmar o bebê, quando os outros todos já foram aplicados.

aliás, ele menciona o uso destas 5 técnicas na ordem, e avisa que alguns bebês realmente precisam de todas elas pra finalmente se acalmarem.

não tenho a pretensão de convencer ninguém a gostar das técnicas ou do livro tanto quanto eu gostei, mas achei que valia compartilhar. recomendo ler o livro, e se puder vou ver o DVD. li várias respostas muito positivas às técnicas, parece que funcionam mesmo. outra coisa: essas técnicas não são nada novo, certo? nossas mães e avós já usavam isso. só precisamos lembrar do que elas faziam para acalmar os bebês e aplicar também. um dos fatores mais importantes do sucesso evolutivo da nossa espécie é justamente a transferência de conhecimento e experiência, não podemos perder isso. tradição é importante e útil, mesmo que precise ser filtrada às vezes.

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