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a chegada do bebê: o lado B

October 24, 2010 · 17 Comments

eu tinha pavor desse momento: aquele sem volta, quando o bebê chegasse em casa. nunca tinha pego um recém-nascido no colo, não sabia o que fazer e não tinha quem ajudasse (especialmente no fim de semana). ele chegou, e no fim acabamos conseguindo dar conta e mantê-lo vivo e feliz 🙂 mas…

… preciso contar pra vocês a realidade nua e crua, sem toda a paixão e encantamento do meu relato do lado a. cuidar de bebê é muito, MUITO cansativo e estressante. não acreditem em ninguém que diga o contrário, e não se engane achando que você vai tirar de letra pelo motivo X ou Y. é difícil, é cansativo e dá um medo do cacete. imagino que o segundo filho seja menos apavorante, mas duvido que seja menos cansativo.

tudo começa com a constatação que você ainda não conhece aquele serzinho. essa coisa de amor incondicional na hora que vê o bebê eu já disse que não senti, e honestamente acho que é viagem. a gente se apaixona pela criatura conforme vai olhando pra ela e conhecendo melhor, apesar dos pesares todos que vou contar.

bem, o que é necessário pra manter um bebê vivo? limpar, agasalhar, alimentar, fazer dormir, ficar confortável e dar carinho. pragmaticamente parece que todas essas coisas são simples – dá pra ensinar e explicar, certo? errado! porque tudo que se relaciona a manter o bebê feliz e confortável tem muito a ver com quem ele é e o que funciona praquele ser especificamente. tem algumas técnicas (leia esse post, pelo amor de deus, que salvou nossa vida), mas você só vai descobrir o que funciona por tentativa e erro.

trocar fraldas, dar banho e amamentar a gente aprende rapidamente. o que ninguém ensina é o que fazer com os sentimentos de medo, desamparo, frustração e raiva (é, gente, dá MUITA raiva) quando você não sabe o que fazer pro seu bebê não chorar ou parar de chorar. porque tem outra coisa que eu não sabia: quando o bebê chora, a gente sente uma COISA, assim com letra maiúscula, uma necessidade primal de fazê-lo parar. dá desespero, vontade de chorar junto. e às vezes a gente demora pra perceber o motivo e resolver. enquanto isso, o que fazer com a urgência de parar o choro?

por mais que você ame seu filho, e você vai amar, tem horas que dá vontade de desistir, de devolver pra fábrica (hahahahaha! :)), de gritar e pedir pra descer. só que – adivinha? – não tem como desistir nem descer nem nada. hoje eu entendo as pessoas desequilibradas que fazem coisas horrorosas com seus filhos pequenos. é claro que precisa ser completamente desequilibrado pra perder a cabeça, mas sério: é preciso ter apoio, cabeça fria e paciência pra não surtar.

pense que você está sem dormir, cansado física e emocionalmente (pra não falar do efeito físico e hormonal pós-parto), com medo de prejudicar o bebê de alguma forma e ainda por cima precisa lidar com o choro e a urgência de fazê-lo parar. é de arrancar os cabelos. eu tinha uma opinião diferente sobre isso antes do otto nascer, mas hoje recomendaria MUITO que quem vai ter um bebê peça toda ajuda que puder (presença física mesmo) nas primeiras semanas, no primeiro mês pelo menos. acredite, você vai precisar, e não é porque não dá conta, mas principalmente porque precisa de uma folga nem que seja de alguns minutos, e precisa também de alguém pra dizer que tudo vai ficar bem, que vai passar.

se seu marido não pode ou não quer te ajudar, pelo amor de deus peça ajuda pra sua mãe, sogra, irmã, qualquer uma. se seu marido ajudar, peça ajuda extra assim mesmo e se arme de toda paciência de que puder dispor, porque vocês vão brigar. vão brigar porque o bebê chora e um acha que o outro podia fazer alguma coisa, porque ele é lento pra trocar a fralda, porque você não consegue fazer o bebê mamar assim ou assado, ou por qualquer outro motivo. vocês estarão cansados, tensos e chateados porque, tipo, a vida sossegada de casados de vocês acabou. é, gente, acabou. pode ser que volte depois de um tempo, mas esses primeiros meses… esqueça.

sexo? admiro quem consegue pensar nisso nesses primeiros meses. eu simplesmente só consigo pensar em dormir. comer e tomar banho estão logo depois na minha prioridade. além da questão da libido que se modifica (já ouvi de muitas mulheres que ficaram menos interessadas em sexo nos primeiros meses após o nascimento do bebê. eu mesma não ando muito interessada, pra ser honesta), o casal está tenso e cansado, foco total no bebê. não é um ambiente muito sexy, convenhamos.

conversas? o único assunto é o cocô do bebê, o que ele fez ou deixou de fazer, se dormiu, se está bem ou mal. não é fácil manter uma vida normal, mesmo fazendo um esforço. dou exemplo: estou amamentando ou limpando ou confortando o bebê OU estou dormindo, comendo ou cuidando da minha higiene. entre dormir e ler um jornal ou ver um filme, sinceramente… dormir. percebam que o repertório fica limitado.

e a frustração e tristeza de ver seu bebê sofrendo? sim, eu sei que é temporário, que todos os bebês choram e que passa, mas juro que é horrível assim mesmo. pode racionalizar o quanto quiser, gente: dói. dá a sensação de incompetência, que somada com o cansaço… afe. chororô faz parte da vida nesses meses. por isso, de novo: precisa se cuidar, pedir ajuda, repetir o mantra “vai passar; eu estou fazendo tudo certo; bebês são assim mesmo” e tal.

em suma, eu não sei como as pessoas decidem ter mais um filho. nossa, o que dá na cabeça das pessoas pra passar por isso de novo? elas esquecem, só pode ser. é chato, cansativo, difícil e estressante. e nem vem com a história de que “ah, mas compensa quando a gente vê aquela coisinha linda…”, porque não é questão de compensar. é questão de sobrevivência da espécie, a gente vem preparado pra amar e proteger os bebês. senão a espécie tinha acabado.

eu amo essa coisinha fofa que está aqui dormindo do lado? nossa, amo muito. mas a verdade é que dá vontade de colocar ele ali no lixo reciclável quando a coisa fica feia 🙂 e essa parte da maternidade o povo não te conta, mas eu tou contando pra preparar você. o seu bebê vai ser a coisa mais importante da sua vida quando nascer, mas não se sinta um ET se tiver vontade de devolver ele pra cegonha, tá?

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a chegada do bebê: o lado A

October 24, 2010 · 3 Comments

como vocês devem imaginar, nós ansiávamos muito pela chegada dele em casa, depois de 8 dias de UTI. o desejo de pegar o bebê no colo e fazer carinho nele, dar banho, essas coisas simples era enorme. mal pudemos acreditar quando ele foi liberado!

foi incrível poder pegá-lo no colo, sentir o calor do seu corpinho, conhecer melhor sua personalidade, o que ele gosta e não gosta.

o otto foi um anjo na primeira semana (segunda semana de vida dele), só deu um pouco de trabalho pra dormir, porque é muito agitado. mas pegamos o jeito, e conseguimos fazer ele dormir numa boa usando as dicas do livro que comentei aqui. sozinhos, no fim de semana, demos banho nele e trocamos a fralda pela primeira vez na nossa vida (nem eu nem o fer tínhamos sequer pego um recém-nascido no colo até então!), conseguimos cuidar dele e fazê-lo ficar confortável.

nas semanas seguintes as coisas ficariam menos simples — ele começou a ter chilique numa determinada hora do dia, dor de barriga de vez em quando, e muita dificuldade pra dormir. mas a felicidade por ele estar bem e em casa superou as dificuldades, a falta de sono e o stress.

mesmo antes dele nascer, decidimos mantê-lo dormindo na nossa cama (num bercinho de recém-nascido), pra facilitar a função da madrugada. tenho muito sono das 22h-7h e seria sofrido ter que levantar pra amamentar. além disso, teríamos que lidar com a pretinha andando no meio dos nossos pés no meio da noite. morro de medo de pisar nela sem querer, então ficar dentro do quarto é o mais prático até que ele complete 3 meses.

por mais que seja uma situação completamente nova e às vezes difícil (adivinhar ou aprender o que o bebê quer/precisa não é simples!), a sensação de conseguir é maravilhosa. estamos nos conhecendo, aos poucos, e nos apaixonando cada vez mais pelo pequeno. cada pequena coisa que ele aprende e faz nos deixa babando. cada sorrisinho, carinha diferente e barulhinho que ele faz é como um prêmio pra nós. ver o bebê diferente a cada semana, às vezes até a cada dia, dá uma satisfação enorme.

o bebê é uma nova pessoa na vida da gente, alguém que estamos aprendendo a conhecer e a amar, a cada dia. mas por mais que seja apaixonante e lindo e fofo, não é moleza não. tem todo o lado B que é preciso conhecer e se preparar pra enfrentar…

Categories: maternidade

o tal amor incondicional

October 24, 2010 · 4 Comments

em primeiro lugar, pra mim funcionou assim: eu não “me apaixonei” pelo bebê ainda na barriga. enquanto ele esteve do lado de dentro, era só uma idéia e eu não fantasiava muito a respeito. talvez isso tenha a ver com o medo de não dar certo até ter dado certo, sabe? mecanismo de defesa, eu acho.

até que ele nasceu, na circunstância mais desfavorável, e fui ver sua carinha através das paredes da encubadora. e aquela magia que descrevem quando vemos a cara do bebê pela primeira vez (que não esquece mais, e tal) não aconteceu comigo. é claro que eu achei ele lindo e fofo, e despertou em mim um desejo incontrolável de protegê-lo, mas estaria mentindo se dissesse que senti um amor imediato e absoluto.

fui aos poucos conhecendo e amando aquele serzinho, conforme fui conhecendo quem ele era, suas carinhas e manias. é incrível como eles já nascem com personalidade e a gente se apaixona por cada detalhe deles. mas pra mim foi aos poucos, como todo relacionamento. com a diferença que por enquanto só melhora 🙂

quase 2 meses depois do nascimento do otto, é realmente impossível pensar no mundo sem ele. vejo a carinha gorducha dele e me encho de uma sensação de felicidade e paixão, dá vontade de apertar e mantê-lo o mais perto de mim quanto possível. entendo agora quem diz que tem saudade dessa época: apesar das dificuldades dos 3 primeiros meses, eles são pequeninos e dá pra ficar grudado várias horas por dia, como se fôssemos ainda um só.

acho que amor incondicional não é a expressão correta pra descrever esse amor que sentimos pelos filhos; é um amor de proteção e preservação, sabiamente desenhado pela natureza. faríamos qualquer coisa pra manter essas criaturinhas vivas e felizes. a carinha delas quando estão tranquilas e felizes dá a melhor sensação do mundo, é alívio misturado com felicidade e “missão cumprida”.

fato é que em 2 meses me apaixonei perdidamente pelo meu menino, e ver sua carinha feliz é a coisa que mais me faz feliz na vida. acho que faria qualquer coisa pra fazer esse mocinho feliz!

Categories: maternidade