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obrigada, meu filho não precisa de 100 mil reais

December 5, 2012 · 4 Comments

num mundo onde existem coisas como essas, eu não devia me espantar com um BBB de mamães e bebês. mas me espanto, felizmente, em especial por estar num programa que há pouco tempo promoveu opções bem radicais de maternidade, completamente opostas à relação destas mães com seus bebês e as “dicas” de desmame (ESQUEÇAM as bobagens que este senhor falou, por favor).

sim, acho esse programa ruim para os bebês, que são expostos a um ambiente antinatural, com clima estressante e competitivo, enquanto suas mães passam por provas que certamente não as tornam mães melhores. mas pra mim o pior mesmo é o que o programa faz com as mães, que são induzidas pela promessa de que estão fazendo algo de bom para o futuro dos seus filhos! vejam o “mote” do programa: “Esta edição traz muitas novidades para as mães que sonham em proporcionar um grande futuro para os seus bebês.” (grifo meu)

100 mil reais vão proporcionar um grande futuro para os nossos bebês? sério?

antes de dizer (e digo) que aquelas mães estão lá porque querem, oras, que são gananciosas ou simplesmente sem noção, penso que não existe mãe que não queira “proporcionar um grande futuro para o seu bebê”. seja lá como queremos fazer isso, é isso mesmo que queremos. mais do que a mera vaidade ou falta de noção, esse programa joga com o desejo poderoso de toda mãe de ver seus filhos sendo melhores, bem-sucedidos. felizes? aí já não sei.

sei que é um programa com duração limitada, e de verdade não acho que fará MAL a nenhum dos bebês. mas não paro de pensar que essas mães perderam a noção, o norte, quando se deixaram encantar pela promessa do dinheiro ou da fama numa foto de propaganda de pomada.

essa história me leva a pensar no quanto estamos longe de entender o que é felicidade e sucesso, o que é criar um ser humano que possa ser pleno e feliz. é preciso ter dinheiro, fama, estudar em harvard, visitar a disney? sério?

desde que me tornei mãe penso demais nisso: o que quero para o meu filho no futuro? devo comprar imóveis, guardar dinheiro, investir em ouro ou ações? preciso de um fundo de investimento para a faculdade dele, o MBA? será que devo colocá-lo numa escola que o prepare para o GMAT, ITA, USP desde já? devo colocá-lo numa escola bilíngue aos 2 anos, para que ele não precise estudar inglês e fale como nativo sem dificuldade?

de verdade, é isso tudo que está na cabeça dessas mães. são 100 mil para que meu filho seja melhor que o seu, melhor que elas próprias, que seja… feliz?

quanto mais penso nisso, mais acho que não devo me concentrar em TER e PAGAR nada além do necessário. que o que meu filho precisa para ser feliz e bem-sucedido é do meu incentivo e exemplo constantes. ele precisa aprender (sem que a escola precise insistir em formato de apostila para lerdos) a aprender, continuamente. precisa que eu o estimule a fazer perguntas, ser curioso sempre, investigar. precisa aprender disciplina (e nenhuma escola vai ensinar isso melhor do que nós, os pais), para ser livre e poder se indisciplinar o quanto quiser e puder.

obrigada, hipoglós e tv globo, mas meu filho não precisa de 100 mil reais, porque ele tem a nós, ele tem nosso tempo, nossa dedicação, nosso interesse. ele vai ganhar os 100 mil reais que precisar, quando precisar. mesmo que nós fôssemos pobres ele ainda assim não precisaria desse dinheiro, como meus pais e nós 3 nunca precisamos. não seriam 100 mil que mudariam nossa história, pois não é dinheiro na conta que muda a dinâmica de uma família, que forma caráter, valores e motivações de uma criança. e sem isso tudo, 100 mil são simplesmente 100 mil moedas.

todo meu dinheiro vai continuar sendo dedicado a confortos úteis e inúteis, livros, músicas, comida e viagens, muitas viagens. e isso tudo combinado com meu tempo, minha dedicação e exemplo certamente formarão um cidadão com vontade de aprender, com repertório de vida, história e bagagem que nenhum dinheiro consegue comprar.

tenho pena das mamães do programa do hipoglós. espero que elas percebam a tempo que nenhuma promoção de marca alguma no mundo proporciona nada além de ilusão de consumo vazia.

**

PS 1: hipoglós nunca entrou nesta casa, e depois dessa não entrará mesmo; TV globo já não faz parte da nossa vida há muitos anos, e cada novo “evento” confirma a sapiência da nossa decisão.

PS2: a melhor forma de regular o consumo e dar o exemplo para os nossos filhos é não consumir, ou consumir o mínimo necessário. cabe a cada um de nós mudar o mundo.

Categories: educação · maternidade
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4 responses so far ↓

  • bruna // December 6, 2012 at 12:14 pm |

    Zel, mais um post para refletir bastante. Dia desses o Mauro Halfeld, consultor da CBN, respondeu ao e-mail de um ouvinte que queria saber se valia a pena fazer um plano de previdência para pagar faculdade, MBA, carro e apartamento para a filha de 2 anos no futuro. A resposta: preocupe-se mais em dar uma formação pessoal que faça com que ela tenha certeza de que pode conquistar tudo isso sozinha, estimulando sua autoconfiança e seus talentos, ensinando-a a investir neles e orientando-a sobre como direcionar seus esforços. Se fizer isso, ela certamente vai ter todas essas coisas -se quiser, claro – e muitas mais, tudo no tempo certo. Adorei.

    Penso: eu estudei em escola pública, fui estudar inglês já meio tarde, tentei e ganhei uma bolsa para morar fora no fim da adolescência, fiz faculdade , estagiei, trabalho e estou aqui, em uma situação pessoal e profissional que me faz feliz. Lógico que meus pais me deram muito suporte, mas também me fizeram correr atrás do que não podiam me proporcionar, como o intercâmbio, por exemplo.

    Só pra finalizar: o povo quer determinar que o filho vai fazer MBA daqui 25 anos! Medo! E se ele quiser ser músico? Cozinheiro? Instrutor de pilates? Jogador de basquete? Não pode? Credo. Beijos!

    • zel // December 6, 2012 at 1:43 pm |

      é isso mesmo querida! eu penso muito nisso: e se meu filho quiser ser PADRE? 🙂 pode acontecer né (pro meu desgosto, hahahhahaha). meu foco é fazer dele uma pessoa que sabe aprender, questionar, com autoconfiança e feliz. beijo!

  • Mari Oliveira // December 10, 2012 at 10:06 am |

    “I’m living in the material world
    Living in the material world
    can’t say what I’m doing here
    But I hope to see much clearer,
    after living in the material world”
    http://letras.mus.br/george-harrison/89268/

    Eu confesso: sou uma consumista em recuperação.
    E o que me fez rever minhas atitudes em relação a consumismo foi mesmo a maternidade. Não quero minha filha enrolada no cheque especial (oi!) porque comprou 3 pares de sapato do mesmo modelo, sendo que em cores diferentes, e nunca usou nenhum dos 3 (oi!)… Quero minha filha FELIZ.

    Ótimo texto, mais uma vez!

    Bjs!

  • Danielle // December 10, 2012 at 11:15 am |

    Zel, assino embaixo de tudo o que você disse.
    Também venho de família remediada, que se preocupou em me dar uma boa base, ou seja, educação, caráter, valores, para conquistar tudo o que já conquistei. O que não é muito, mas já é mais do que meus pais e do que 99% da população. E é o que pretendo passar para o Luca.
    Parabéns por ajudar a disseminar esses valores. Graças a pessoas como você ainda acho que esse mundo tem jeito!
    Bjs

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