fabricando

diário do otto: 7 anos e 5 meses

January 29, 2018 · Leave a Comment

otto,

você já aprendeu que sua mãe é cabeça de vento, e lembra disso quando me distraio. sua mãe se dispersa, e começa coisas e não termina… e está tudo bem. as pessoas são diferentes, e você também vai aprender que alguns defeitos são também qualidades (é por ser cabeça de vento que consigo me desapegar de problemas, e seguir, ser feliz hoje, sem me preocupar tanto com o futuro ou remoer o passado).

mas já me distraí — seu último diário foi escrito com 4 anos e meio, mais ou menos, e nem consigo começar a dizer o quanto tudo mudou desde então.

naquela ocasião você tinha mudado de escola, e nós tínhamos mudado de casa. a casa que construímos juntos, a casa azul.

foram 2 anos naquela casa, 2 anos em que percebemos que tanto a casa nova quanto a escola nova não estavam funcionando como queríamos. você continuava tão curioso e inteligente como sempre, mas ainda muito resistente com a escola. socializando um pouco melhor, mas longe do ideal. nossa casa era linda, mas enorme, e muito mais custosa do que nós queríamos.

você aprendeu inglês, fez aulas de música com o Elias — criamos juntos partituras malucas, tocadas a 8 mãos (e pés, e corpos :)). amávamos aqueles sábados de manhã, tocando e cantando, mesmo sendo tão difícil pra você ser membro da orquestra, e não o maestro. você amava desenhar nas portas enormes de vidro da sala, histórias incríveis de naves espaciais e planetas. você fez seu primeiro amigo de verdade, o pedrinho, com quem você ainda brinca e de quem gosta muito. e nós amamos os pais dele, o que nos ajudou a aproximar vocês. conhecemos também a vitória, com quem você gostava muito de brincar, uma menina divertida e amorosa.

foram dias cheios de sol e tentativas frustradas, mas teve muita beleza e alegria também. e se tem alguma coisa que eu quero te contar desse período todo, meu querido, é que não se pode desistir. dificuldades fazem parte de estar vivo, pensar e sentir. dificuldades nos obrigam a rever onde estamos, pra onde vamos, pra onde queremos ir, e mudar. eu sei que mudar e sair da rotina é difícil pra você, mas acredite em mim: é bom. avaliar as coisas e perceber que algo não vai bem é fundamental para crescer e ser feliz.

às vezes acho que minha maior missão como sua mãe é ensiná-lo a se adaptar. a perceber o entorno, aprender, e mudar. sua mãe é muito boa nisso, meu amor, e farei meu melhor para ensiná-lo sobre como se adaptar.

mas foram dias difíceis; você sempre odiou acordar cedo pra ir pra escola, e cada dia era uma batalha. decidimos então mudar, de novo, e encontramos outra turma (ainda na mesma escola) à tarde, pra reduzir seu tempo na escola e evitar o stress da manhã. iniciamos seu tratamento de terapia ocupacional física com a Giovana, já que sua coordenação grossa não era nada boa (a fina sempre foi muito boa). as coisas melhoraram sim, mas muito lentamente e menos do que queríamos. nesta turma não encontramos nenhum amigo pra você e nem pra nós. descobrimos que essa turma era muito fechada e não nos aceitou (nem a você nem a nós).

neste meio tempo vendemos nossa casa azul e encontramos uma nova casa, menor, porém com quintal muito maior e muito verde, exatamente como queríamos. nos mudamos para o meio das colinas, na casa em que estamos hoje. nossa vida é mais tranquila, e depois de 1 ano aqui, construímos nossa pequena piscina. foi aqui que você começou a aprender a nadar, ensinado pelo seu pai <3

ao mudarmos, decidimos começar uma terapia de família, para aprender como ajudá-lo a se aproximar de outras crianças, que é ainda uma questão pra você. foi quando encontramos a Mariana, que vem nos ajudando a ajudar você (lembre que seus pais não tinham amigos com crianças, nem primos, nem vizinhos com crianças… nós isolamos você num mundo de adultos!). fomos aos poucos aprendendo o que você precisa para se relacionar melhor, o que nos levou a mais uma mudança… sua escola não estava ajudando em nada nos pontos em que você precisava. apesar de legais, suas professoras não tinham condições de ajudar você por falta de apoio da escola.

você, meu querido, aqui nesta fotografia dos seus 7 anos, tem dificuldade de se relacionar com crianças da sua idade. negociar seu espaço, e seus desejos, e ser flexível para os desejos dos outros é difícil pra você. e por isso é tão importante neste momento da sua vida ter apoio não só nosso, como seus pais, mas da terapia e especialmente da escola, onde as suas relações sociais acontecem. sua escola precisa ajudar você, e a nós também como pais, a integrá-lo com as crianças.

estamos neste momento procurando uma nova escola pra você, que possa nos apoiar a iniciar essa nova fase da sua vida. você nunca teve dificuldade na parte cognitiva, muito pelo contrário, sempre foi um menino muito inteligente, curioso, aprende rápido e muitas vezes sozinho. mas a socialização é também parte do aprendizado dessa fase, e estamos buscando essa ajuda numa nova escola.

seu relacionamento com as pessoas melhorou conforme você cresceu, e tenho certeza que vai melhorar mais e mais. você é um menino inteligente, carinhoso, divertido. escreve histórias, faz desenhos muito legais e cheios de movimentos e ação. você ama lego, e jogos de resolver problemas. adora filmes (voltou a amar o wall-e, mas nos últimos 2 anos sua paixão eram os filmes de lego — batman, ninjago, e todos os heróis dessas franquias), adora música, e continua comendo bem, embora agora cheio de vontades (“eu não gosto mais de beterraba”; “agora eu gosto de pepino de novo”). nunca sei como vai estar seu gosto naquela refeição, mas uma coisa não mudou: o amor pelo macarrão e pela comida japonesa 🙂

você tem dormido melhor, mas ainda nos chama às vezes à noite. e quer companhia na hora de dormir. por enquanto, continuamos dando o que você pede. não é fácil, mas pra nós é também gostoso estar pertinho de você nessa hora tão divertida, no final do dia, quando você faz as perguntas mais malucas. e parece entrar num estado de devaneio filosófico, fazendo perguntas sobre o sentido da vida.

inclusive aproveito e te conto que acho que a vida não tem sentido, viu, otto? não é hora de dizer isso pra você assim, na lata, mas de forma indireta tentamos mostrar exatamente isso pra você: o que existe é o agora, este instante. e por mais que nos preocupemos, como quaisquer pais, e façamos vários esforços no sentido de prepará-lo para a vida da melhor forma, estamos aqui e agora amando os momentos que temos. estamos oferecendo o que podemos neste instante, e torcendo muito pra que tudo que podemos oferecer seja suficiente para que você seja independente e, eventualmente, feliz.

amamos você mais que tudo, meu querido. a vida é boa, e você também.

um beijo da mamãe.

Categories: diário · escola · musicalidade

sem príncipes ou princesas

January 29, 2018 · Leave a Comment

[jan-2016]

Estava aqui pensando — não é lindo que os filmes favoritos do Otto sejam Wall-e, Lilo & Stitch e os Guardiões da Infância?

 

Ele gostou de vários outros, mas esses são os únicos que ele realmente viu mil vezes e adora.

 

O primeiro é sobre salvar o planeta, sobre amor e amizade. É também sobre ser diferente — quem salva a humanidade é um grupo de robôs “quebrados”, é um capitão rebelde. Tudo por causa de um robô antiquado e amoroso, que encontrou uma robô cheia de personalidade.

 

O segundo é sobre uma família não convencional, sobre ser diferente, sobre descobrir quem é sua verdadeira família, seu lugar no mundo. As protagonistas são mulheres (e aliens, inclusive um deles é transformista :D), e seus corpos são normais. Elas nadam, andam, dançam. Brigam, bagunçam, fazem as pazes.

 

O terceiro é sobre derrotar o medo.

 

Gosto de pensar que é nossa influência que o levou a gostar desses filmes, mas a verdade é que ele viu de tudo e foi ele que  escolheu. Ele viu Ralph, Mulan, Tarzan, Shrek, Madagascar, Monstros, Enrolados, sei lá o que mais. Nenhum deles foi tão amado quanto estes.

 

(Os heróis todos era impossível ele não gostar, já que nós gostamos tanto!)

 

Tenho um certo orgulho de não incentivá-lo a ver histórias de príncipes e princesas. Por mais modernos que sejam, reforçam tantos esteriótipos… Prefiro esperar um pouco pra que ele veja e possamos conversar um pouco sobre isso.

 

Mesmo os heróis da Marvel são mais fáceis de administrar, porque todos têm poderes, e cada um é diferente (jogar videogame com eles, por exemplo, é muito interessante — nenhum é melhor que outro, e coisas que um faz os demais não fazem. Menos o Batman e o Superman, que são incríveis <3). Há mulheres heroínas, mesmo em menor número, e elas são foda.

 

Fico muito feliz de poder criar meu filho numa época em que as coisas estão mudando, e esse tipo de preocupação faz sentido. Vai ter gente estranhando, mas o mundo já é bem diferente do que era há 10 anos.

Categories: Uncategorized

café dos campeões

January 29, 2018 · Leave a Comment

[jan-2013]

Otto hoje pra babá, no café da manhã:

“Eu tava pensando que eu podia tomar um sorvete com a Maria…”

😀 filho do Fernando Balestriero, nem precisa DNA!

Categories: Uncategorized