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X-factor

May 6, 2020 · Leave a Comment

Estamos assistindo X-Men com o Otto, ~na ordem em que foram lançados os filmes~ porque a criança é metódica, e é ao mesmo tempo uma dor e um prazer assistir com ele, observando as perguntas e em quais partes ele sente mais.

Acabamos de ver “First Class”, e vimos antes “The last stand”, que foi o mais sofrido. É inconcebível pra ele tirar os poderes dos mutantes, e não só porque eles ficariam sem poder, mas porque ele não entende como podem querer tirar de alguém aquilo que torna a pessoa o que ela é. Ele imediatamente entendeu o ponto do Magneto (não precisam de cura alguma) mas ao mesmo tempo acha que ele não precisa matar todo mundo. “Eles podem usar a cura só em quem é um perigo pra si e pros outros”, como a Rogue ou a Jean Gray versão Dark Phoenix.

Ele chorou quando a Mystique foi “curada”, e também quando Magneto perdeu os poderes. É como se eles não fossem mais eles mesmos, e tivessem morrido (e a gente não morre mesmo um tanto quando deixa de ser a gente mesmo pra se adequar?).

Temos visto tudo em inglês com legenda (não tem dublagem nem legenda em português aqui), e ele pergunta muita coisa de vocabulário, expressões. Hoje ele quis saber o que é “accept yourself”, e explicamos. Ele pareceu confuso — como alguém pode não aceitar a si mesmo? Perguntei se ele gostava de quem ele era, e se mudaria. Ele muito prontamente disse um NÃO bem firme. Ele gosta de ser quem é.

É bonito — e espantoso, pra mim — ver uma criança tão segura, tão confortável sendo quem é. Porque não se trata só desse momento vendo o filme, ele realmente tem uma autoconfiança excelente. Tem medo de errar, mas não é pelo que outros vão pensar, não é pra agradar. É a régua dele mesmo que é dura demais.

(Pobre dele. Perfeccionismo causa tanto sofrimento!)

Mas voltando — que série bonita, a dos X-Men, pra pensar sobre preconceito, sobre se adaptar para caber. Gosto demais da postura do Magneto (embora os métodos sejam… questionáveis, como diz o Fernando). Ele não quer se adaptar, é pouco pra ele. Ele quer dominar, ocupar o espaço, liderar e ser plenamente a maravilha que é.

Tá errado?

É louco ter que explicar pro Otto que vários mutantes ali fazem o que fazem pra tentar agradar os outros, pra se “camuflar”. Ele não entende a necessidade, porque pelo menos até o momento não se viu nesse dilema: do que vou abrir mão pra ser amado? Que manobra preciso fazer pra ser aceito?

Sinto ao mesmo tempo um orgulho e felicidade pela sua auto-estima tão forte e uma ternura e medo enormes, porque alguém vai machucar essa fortaleza, em breve, é inevitável. E vai doer em mim também.

Entendo agora quem quer os filhos pequenos pra sempre. O mundo é vasto, e complexo. A noite é longa e cheia de horror.

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