a revolução sexual está encruada

outro dia li alguma modelo ou coisa parecida falando sobre “o que falta para as mulheres no mundo”? ela respondeu “liberdade sexual” e eu achei tão esquisito… sei lá, na minha cabeça nós temos liberdade sexual. não?

bom, passou, nem pensei mais nisso. aí eu tou ali navegando no UOL, à toazinha, vejo o link SEXO e me animo: cliquei. entro aqui e qual não é a minha surpresa em perceber que o tal site de sexo adulto só tem conteúdo sexual pra quem gosta de mulher. montes de mulheres peladas, bundas de mulher, “como conquistar aquela gata” e tal. puta que o pariu, será o benedito? não é demais o link principal de sexo do UOL — o maior portal do brasil, quiçá da américa latina 🙂 — me levar prum site totalmente pra homens (talvez para lésbicas com 1000 ressalvas)?

aí voltei a pensar na liberdade sexual: não, não temos. podemos tentar exercitar essa liberdade, mas com que bases? me pergunto quantas mulheres de fato estão em paz com sua sexualidade, que sabem mesmo do que gostam ou deixam de gostar ou só repetem padrões distorcidos. quando é que houve de fato um comportamento sexual feminino legítimo? pensando bem simplistamente, nos últimos séculos só quem podia ter se expressar sexualmente eram os homens; as mulheres ficavam à sombra. quando nos foi permitido sair da sombra, o que fizemos? imitamos os homens. genial…

bem, acho que falta achar o fio da meada e permitir que nós todas possamos encontrar nossos caminhos, sexualmente falando. é claro que haverá aquelas que são mesmo felizes de um jeito parecido com o dos homens, e é claro que o oposto também vai existir. mas onde e quando começaremos a exercitar de fato nossas vontades, dúvidas, ter espaço para pensar, conversar e experimentar? a mídia, que foi o início do meu CLIC, não ajuda em nada, até onde eu vejo. muitas de nós gostam mesmo de sexo (teoria e prática) mas não há por exemplo revistas especializadas no assunto pra nós. nova não conta, né? aquilo é revista de mulher frígida, desculpa, só ensina tecnicazinhas pra fazer seu homem feliz (e você, amigam?!). bom, TPM é revista de mulher pseudo-liberal e de sexo mesmo não fala nada. o que acontece, será que não podemos querer ler sobre sexo, ver fotos tesudas, ler artigos legais sobre o assunto? sempre que sexualidade feminina está em pauta a coisa fica entre o escracho e os eufemismos das julias e biancas. eu até aceito as duas coisas, não tem problema, mas será que não há nada melhor a oferecer às mulheres que querem ler e ver sexo do ponto de vista delas?

tou cansada dessa estética sexual masculina, fotos com a mulherada cheia de porra — ah, me poupe! — e sempre em segundo plano, porque o primeiro plano é sempre O PAU, com letras muito maiúsculas, mesmo, porque nunca é um pau normal, é sempre O PAU MONSTRO. pior é que tem um monte de mulher que compra essa estética e sexualidade masculina e começa a jurar que se o cara não tem pauzão a trepada não presta; se não rolar boquete com caras e bocas o cara vai te achar uma merda, etc. jesus, será que não vai aparecer nenhum editor (ou editora, com sorte) de uma revista para mulheres que gostam de sexo?

filme pornô: reparem como boa parte do filme se passa mostrando o pau dos fulanos. as bucetas das moças só aparecem como receptáculo do mestre e senhor dos prazeres, O SR PAU. (agora eu animei de colocar com maiúscula, aguentem). sexo oral nas infelizes dura segundos apenas e serve pra quê? pra facilitar a entrada DO (vocês entenderam). não, não dá.

aí fica essa situação bizarra atual: as mulheres podem trepar com quem quiserem, sim, e podem falar do assunto, sim, só que vira tudo de ponta-cabeça. repara na quantidade de mulheres surtadas que quando se juntam querem falar-falar-falar e contar detalhes do tamanho do pau do fulano, e a posição preferida e etc. e as mulheres que trepam com qualquer zé mané, só pra se sentirem “livres”? pra conseguir a liberdade sexual forçada, abrimos mão do nosso amor próprio e do direito de pensar e agir sexualmente de forma mais natural.

minha conclusão é desanimadora: nos falta espaço para exercitar nossa sexualidade de forma sadia e principalmente sem repetir os padrões masculinos. onde está, meu deus, a sexualidade feminina? certamente não nas bobinhas que dão pra qualquer bosta achando que estão abafando. também não está nas que se resignam com o pouco espaço. fosse eu uma mulher mais empreendedora, fundaria uma revista somente para o universo sexual feminino, com todas as suas diferenças. e daria um belo chutão no meio da bunda daquele tipo de homem que quando vê mulheres com mulheres pensa somente em como elas PRECISAM dele, DO PAU.

(por agora é só, mas vai continuar, aguardem)

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  1. guga, eu acho que o delícias tem mais relação com o que eu estou reclamando do que com a solução 😀

    o problema é justamente o seguinte: mulher inteligente. o que é uma mulher inteligente? é a que lê saramago? not quite true. e ser inteligente, o que tem a ver com sexo? provavelmente nada. o que eu queria mesmo, na verdade, é alguma mídia para mulheres que se interessam por sexo. eu gostaria de poder criar algo assim, mas… e o tempo? e as pessoas pra contribuir? dureza, viu? 🙂

  2. hmmm, um assunto que dá tanto pano pra manga e eu com tão pouco tempo pra assuntar… 😛

    mas olha, larga mão do UOL e vai pra Nerve.com que vc vai estar melhor servida, baby. E praqueles outros linkezinhos que eu já te passei, hehehehe

  3. Não acho que a gente tem liberdade sexual, não, sabia? Nem o básico. Na verdade, a “mulerada” (minha classe, ui!) se escorou bem nesse padrão que vc diz, o masculino, e ao invés de fugir do “maisdomesmo”, a gente repete a imbecilidade. Claro que a maioria dos homens não é imbecil (preciso, necessito acreditar nisso…hohoho – brincadeira, meninos…), mas tem mesmo essa coisa chata de se igualar onde a coisa é feia. E tb confundimos de uma maneira absurda a possibilidade de transar sem culpa, o que já é uma quase-utopia (uma vez que fomos, na maioria, criadas em lares machistas – mesmo que neguem até a morte, como o meu) com o súbito esquecimento de que ali na frente (embaixo, de lado, em cima, de quatro :-)) há outra pessoa, tb com expectativas, e duvideodó que os dotados de pinto não as tenham. Aí a gente não deixa claro qual a relação que está se estabelecendo, o outro se magoa e a gente dá de ombros. Se isso é ser maioral, se é assim que é bacana agir, se é ser “muderna”…passo a minha vez.

    Tenho um amigo mui engraçadinho que diz assim pra mim: e como é que vc faz, Gio? Diz pro cara “ei, fulano, me empresta aí teu pau”? :-)Nhé.

    Ui, hj é dos dias que eu concordo mermo com tuas idéias.

    Beijo na boca.

  4. olha continua mesmo porque até o post de hoje eu lia este blog pra me divertir e pra poder pensar: “que bom, mulher inteligente E engraçada” (humor é chave na minha vida) mas agora, achei que você foi um passo à frente no meu dilema da vez, que é o feminismo (detesto o modelo de igualdade, acho idiota, mas por outro lado o mundo ainda precisa, sei lá, não dá pra dizer que é besteira)E falar de sexo é sempre bom né? Mas com minhas amiguinhas acaba no tamanho do PAU e eu nunca fico à vontade pra filosofar. Será que puta tem uma sexualidade mais resolvida ou menos resolvida? Será que o machismo do mundo tem cura? Será que a Nova (e as pseudo-eróticas infantis tipo Capricho e Carícia) deveriam ser explodidas ou elas tem uma função de degrau na evolução humana?

    Zel, falando muito sério eu achei que esse post foi a coisa mais lúcida que eu li a respeito de sexualidade feminina na minha vida(tudo bem que eu não sou uma pessoa suuuper culta no assunto, mas eu leio um bocado sobre isso). E se eu pudesse eu ia financiar a revista.

  5. Clap, clap, clap! Adorei, Zel. Nao poderia concordar mais. Sinto-me alien quando tento explicar que nao estou em nenhum dos rotulos e que nao entendo tantos porques que ninguem entente, mas que continuam falando astutamente mesmo assim. Sexualidade feminina ainda estah em seus tempos da caverna. E isso tanto na cabeca dos homens como na da maioria das mulheres tambem.

    Beijao!

  6. Zel, o que eu quis dizer com “mulher inteligente” foi “mulher autêntica, que não se molda de acordo com o que publicam por aí, que não tem receio de expor [bem medido e bem pensado] quais sacanagens acha excitante. me referi à inteligência sutil que só a mulher tem para abordar a própria sexualidade”.

    Fui muito conciso [simplório] na primeira tentativa, né? Tudo bem, agora acho que ficou melhor hehehehe

    E escrevendo este comentário pensei: A Dove não tem a campanha da Real Beleza? Deveria existir também a campanha da Real Sexualidade, hã?! “D

    Think about this.

  7. para se ter uma idéia de como está a sensualidade e a sexualidade feminina, basta usar o oráculo do Google. você e seu texto foi a única exceção que encontrei na internet. em grande parte, a mulher ainda pensa (e reage) erótica e sexualmente conforme o padrão patriarcal. a mulher não se permite receber elogios, não se permite ser apreciada, não se permite partir para a caça, não se permite ter tantos relacionamentos e prazeres quantos quiser. o tabu da monogamia, da fidelidade e do adultério continuam sendo padrões incontestáveis.

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