quase sem querer

tenho andado distraído

impaciente e indeciso

ainda estou confuso

mas agora é diferente

estou tão tranquilo e tão contente

tantas chances desperdicei

quando o que eu mais queria

era provar pra todo mundo

que eu não precisava provar nada pra ninguém

me fiz em mil pedaços pra você juntar

e queria sempre achar

explicação pro que eu sentia

como um anjo caído

fiz questão de esquecer

que mentir pra si mesmo

é sempre a pior mentira

mas não sou mais

tão criança

a ponto de saber tudo

já não me preocupo se eu não sei porque

às vezes o que eu vejo quando ninguém vê

e eu sei que você sabe quase sem querer

que eu quero o mesmo que você

tão correto e tão bonito

o infinito é realmente

um dos deuses mais lindos

eu sei que às vezes uso palavras repetidas

mas quais são as palavras que nunca são ditas?

me disseram que você estava chorando

e foi então que eu percebi

como te quero tanto

(quase sem querer, legião urbana)

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essa foi a primeira música que escutei do legião urbana, com 12 anos, e foi amor à primeira ouvida. cresci ouvindo legião e titãs e amando os 2, mas confesso que ainda hoje as letras do renato russo fazem pensar e me dizem coisas. pessoas que mentem pra si mesmas são, pra mim, as mais dignas de pena.

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eu sei, eu sei que é difícil não ceder à tentação de mentir muito pra si mesmo e ir deixando pra lá, mas… cada um que faça como quiser, EU não quero perder tempo com bobagem. não quero repetir o erro das mulheres da geração da minha mãe (atualmente com 52 anos) que chegam aos 50 anos e deprimem porque os filhos foram cuidar da vida, o marido não é amigo (e às vezes nem está mais junto), a família está distante ou morta, os amigos se afastaram, a carreira foi pro brejo e elas perderam a razão de viver. antes de marido, filhos, etc. eu quero é saber de MIM, entender o que eu quero, construir meu caminho. e, acreditem: não dá pra fazer isso vivendo de mentiras, nada se solidifica num chão tão pantanoso.

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eu li a beth ontem e, nossa, também penso tanto na questão de ter ou não filhos. sempre achei a maioria das mulheres absolutamente irresponsável a esse respeito e não quero cometer o mesmo erro. chutando, diria que boa parte delas fica grávida por medo da solidão (na falta de um marido pelo menos têm seus filhos pra “fazer companhia”), ou na tentativa de consertar o que na vida delas consideram errado (“vou dar pro meu filho tudo o que não tive”), ou para segurar um relacionamento que não se sustenta, ou porque ela não é boa em nada na vida e acha que será finalmente boa sendo mãe. sinceramente, vejo poucas mães sendo mães simplesmente porque sim. outro dia li um artigo falando sobre as estrelas de hollywood todas ficando grávidas (angelina jolie é o exemplo da vez) e como engravidar e ter filhos virou “hype”. não é à toa que o mundo tá invadido por crianças chatas, pelo amor de deus…

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e eu falo mal das crianças só porque é mais simples, mas na verdade eu me revolto mesmo é com os pais: a maioria coloca em cima dos ombros dos filhos um peso gigantesco, jogam todas as suas neuroses em cima dos pobres coitados. já repararam como tá cheio de pais de “gênios” hoje em dia? crianças que lêem aos 3 anos ou sei lá o quê. basta a criança falar uma frase com verbo conjugado corretamente e os pais “ohhhh! como meu filho é inteligente”. é uma necessidade de ter filhos gênios que eu nunca vi igual — por isso eu digo e repito: é recalque. não recebeu atenção suficiente na infância e quer porque quer que o filho seja diferente do resto do mundo. até porque se seu filho for o máximo VOCÊ é o máximo também, certo? deprimente. aí você chega aos 40 ou 50 e seu filho além de não ser o novo nobel da paz não te liga nem no aniversário; o que acontece? a pessoa surta, claro. triste, mas verdadeiro.

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ALERTA VCA! (TM by bia bonduki)

e antes de você mãe prestimosa ou pai amoroso achar que estou falando especificamente de você, vá para este post aqui. se mesmo assim não se convencer, saiba que esse assunto de “ser ou não mãe” e “por que ser mais uma mãe sem noção?” já exsiste pra mim há muitos anos, não é de hoje que questiono a procriação sem reflexão. não esquente sua cabecinha achando que eu falo especificamente de você ou dos seus rebentos. caso você ainda assim se sinta incomodado, vá para o setor de reclamações aqui.

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vocês vêem como são as coisas: essa semana estávamos nós no veterinário com 5 furões doentinhos numa gaiola de transporte, aguardando na recepção. aí aparece uma mãe (entre 18 e 25 anos, aparentemente) com seu filho pequeno (algo entre 2-4 anos). o menino não parava quieto, corria pra lá e pra cá, um saco. até aí, tudo bem, crianças correm mesmo, né, minha gente? o problema é que o menino veio até onde estávamos sentados, quis ver os bichos na gaiola e nós, educados, deixamos. ele não teve dúvida: socou a mão na porta da gaiola, tipo tapa mesmo, pra acertar os bichos. bem, nessa hora eu já ia dar uma bica no moleque, mas a mãe pegou o menino e disse “filhinho, não pode bater no bichinho, viu? que coisa feia!”. se olhar matasse o fer tinha matado os dois no local. ok, ficamos longe da ameaça mirim (prontos pra dar um safanão caso chegasse perto) e chegou o moço que cuida dos furões do veterinário com mais 5 furões. amigável, deixou o menino pegar o furão — e o menino quase mata o furão sufocado. o fer, irritado, falou bravo com o cara: “tira esse furão desse menino JÁ!” e ele nem discutiu, tirou o bicho do menino, que começou a gritar. a mãe, meio bravinha mas sem coragem de replicar, pegou o demônio mirim e saiu, consolando o coitadinho.

agora fala: uma fulana dessas não tinha que ser proibida de ter filhos? tinha, sim. mais um idiota no mundo ninguém merece, pô! e nem me venham com o papo “coitadinho, é criança…”, não. criança que não tem educação, não sabe se comportar em público e nem respeitar as outras pessoas tem que ficar em casa, com os pais aguentando.

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por outro lado, como me disse a dani uma vez: se você ficar pensando muito e achando que um dia vai estar pronta pra ser mãe, esquece, nunca vai ter filhos. e é verdade, eu concordo que boa parte da minha preocupação está relacionada ao meu perfeccionismo, ao querer ser uma boa mãe (e o que seria isso afinal?) e também ao medo dos meus filhos serem umas malas sem alça e eu morrer de frustração. seja como for, ainda preferia que as mulheres do mundo se preocupassem de MAIS com essas coisas do que de MENOS, como é o caso por aí. até porque o controle de natalidade é uma necessidade, ecologicamente falando 🙂

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mudando de pato pra ganso, essa história de preocupação ecológica tem me pegado de jeito. neste apartamento novo nosso chuveiro é um escândalo de bom: muita água, MUITA, e em temperatura excelente. só que eu sofro cada vez que tomo banho e que o fer toma banho, porque é aquele monte de água “desperdiçada” e eu fico me sentindo ao mesmo tempo péssima e idiota, já que aparentemente só eu me preocupo com isso. passo na rua e vejo pessoas lavando a calçada com mangueira, lavando carros, ninguém nunca fala desse assunto. a água tá acabando, gente, eu fico agoniada! alguém sabe se existem iniciativas no mundo pra salvar a água? 🙂

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resolvemos separar os lixos obviamente recicláveis aqui em casa: plástico, papel e alumínio. confesso que boa parte dessa minha preocupação vem da sheilinha, que é uma moça de 1o mundo e recicla tudo. mas cadê as campanhas de reciclagem, cadê as coletas seletivas nas nossas casas, facilitando a vida de quem quer ajudar? isso porque estamos falando da maior cidade do brasil, senão da américa latina…

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mas como falar de consciência ecológica num país-piada desses? não sei se comentei aqui alguma vez minhas preferências eleitorais, mas sempre votei no PT e sempre adorei o lula (certamente por influência do meu pai, que sempre foi operário e, é claro, sempre admirou o lula). hoje eu sinceramente não gosto nem de falar do assunto e conscientemente jogo todo o lixo pra baixo do tapete, porque falar de tudo o que vem acontecendo dói, de coração. eu cago pras brigas entre partidos — até porque hoje tenho convicção que são todos iguais mesmo — e acho o PSDB tão ruim quanto o PFL e, infelizmente, acho que o PT é tão ruim quanto todos os outros, com um agravante: eu acreditava que não era assim. ver que o PT na verdade é tão ruim quanto todos os outros partidos me deixou uma sensação muito ruim de ver o mundo como ele é: podre.

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e não, por favor não venham me dizer que o PT é pior que os outros partidos, plis. é tudo igual, e somos todos um pouco iguais também, porque sonegamos impostos e pagamos propina e usamos nossos pequenos poderes, damos carteiradas (os poucos de nós que podem), fazemos conchavos, somos coniventes com pequenas e grandes injustiças, nos omitimos e temos preguiça de participar até de reunião de condomínio. quando as coisas são decididas nós queremos mais é estar de fora da decisão que é pra meter o pau no que quer que seja combinado. reclamamos e não damos sugestão. molhamos a mão do guarda pra não levar multa. preciso dizer mais ou tá claro que temos que mudar de baixo pra cima, como se diz? claro que fico indignada com tudo o que vejo acontecer, mas confesso que me incomoda mais a minha falta de atitude que qualquer outra coisa.

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mas essa sou eu, né? a que acredita que é mais efetivo mudar uma pessoa (eu mesma) do que querer mudar o mundo.

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enquanto isso, na república dos mustelídeos, todos os quadrúpedes passam bem e os bípedes passam mal e querem férias 🙂

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  1. oi, beibe, eu aqui no clima 80’s depois de ver o documentário sobre o Herbert Vianna ontem e você de Legião…

    sobre filhos, well, criança-demoninho é o fim do mundo mesmo, mas depois que você já teve que testar toda sua cara de não-tenho-nada-com-isso com seu tesourinho do coração dando show de malcriação no shopping center, ou fazer aquele sorriso amarelo de ah-deve-ser-sono enquanto torce o bracinho do infeliz pra tirá-lo de cena rapidamente você aprende a não falar mais mal de mãe nenhuma porque o seu telhado vai ser sempre de vidro, de cristaaaal. (e isso tudo é pra dizer que eu entendo, lógico, todas as ponderações, mas QUEREMOS UM BABY PISCIANINHOOOOO, hehehehe)

  2. Zel,

    Acredito que os pais têm absoluta responsabilidade na educação de seus filhos…

    Minha filha tem 3 anos e sabe dizer por favor e obrigada,limpa os pés no tapetinho de entrada de qualquer lugar, e jamais encostaria a mão em algum bichinho com violência.Imagine vc que quando ela senta no sofá (de qualquer lugar) ela tira os sapatinhos…e fica indignada quando vê os amiguinhos pulando no sofá dos outros com sapato.

    Como existem pessoas de todos os tipos, existem crianças que conseguem aprender a ter educação.

    Já disse e repito, vc tem valores maravilhosos prá passar adiante, e uma criança sua, vai espelhar esses valores e te deixar orgulhosa.

    Um grande beijo,

    Nuna.

  3. meninas, que fofas 🙂

    nuna, que coisa mais linda 🙂 sabe o que me incomoda hoje em dia? pais que dão educação aos filhos são criticados por excesso de rigor. vejo pela minha sobrinha: minha irmã e meu cunhado são bem rigorosos com ela, e ela é uma menina SUPER educada. ambos sofrem represálias da família toda porque “são muito duros com ela”. parece que virou moda ser escravo dos desejos das crianças! confesso: tenho medo 🙂

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