é a época do capeta

a história da cobra eu gostei, uma coisa assim herói jeca tatu. mas fiquei com pena da cobra, confesso, apesar de saber que é ela ou o menino e tal. tenho simpatia pelos répteis.

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mas a outra história do menino eu nem quero comentar, meu deus, nem em filme de monstro tem coisa tão horrível. por essas e outras eu às vezes passeio pela cidade e fico me perguntando quanto tempo demoraria pra natureza tomar conta do mundo, caso os humanos fossem subitamente extintos. wishful thinking, sabe?

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outro dia passei o dia trabalhando num cliente mas, diferente do que acontece normalmente, tinha trabalho pra fazer sozinha, ocupando uma das baias. vi pessoas andando pra lá e pra cá, falando o tempo todo sobre assuntos que nada tinham a ver com trabalho mas que também não tinham importância nenhuma: fofocas, futilidades, inutilidades, conversas vazias. me deu uma tristeza inexplicável, uma vontade de dizer praquelas pessoas cuidarem das suas vidas, procurarem coisas legais pra fazer (dentro ou fora dali), viverem de verdade. me senti como num filme de ficção, cercada de humanos que passaram por lavagem cerebral ou coisa assim, alheios à vida e ao que realmente importa.

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e nem sou da linha de que trabalhar é um mal ou coisa parecida, hein? eu gosto de trabalhar, de verdade. melhor: eu gosto de trabalhar com o que eu trabalho, da forma como trabalho. e acredito com convicção que é essencial gostar do que se faz, ter aquela sensação gostosa de realização. há muitas atividades que trazem esse sentimento de realização, mas a nenhuma delas dedicamos pelo menos 1/3 do nosso tempo todo dia, certo? se você for infeliz no seu trabalho, 1/3 do seu tempo é de infelicidade ou apatia! deus me livre.

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houve épocas de pensar na vida e ter que encontrar mecanismos sofisticadíssimos pra me convencer de que eu era feliz. nessas horas a imaginação é útil e nunca me deixou na mão (o que acabou me impedindo de dar jeito nos problemas, mas isso é outra história). hoje em dia, quando incomodada com a minha vida, paro pra pensar friamente e sou obrigada a admitir que não tenho quase nada do que reclamar. mas se papai noel existisse, eu pediria pra me livrar da preguiça crônica, essa doença maldita.

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e o carnaval? que coisa odiosa! a globo é ainda mais asquerosa nessa época, com nego berrando sambas ridículos e nega esfregando a bunda na tela. mas tudo bem, a TV a gente desliga, mas e as escolas de samba vizinhas no bairro? morar no alto tem desses problemas: a escola de samba lá do outro lado do bairro ensaia e a gente escuta aqui. escuta inclusive o fulano berrando no megafone que “é uma camiseta por pessoa, galera, vê lá”. e o repique dos tambores que, de tanto se repetir e acelerar a marcha, ficou mais chato que o caminhão de gás.

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sim, eu já brinquei carnaval: no recife e em olinda várias vezes, no rio e em sampa só de passagem e na praia (dezenas de vezes). até que fugi a primeira vez dele lá na década de 90, fui pra nova iorque curtir neve e nunca mais suportei o ziriguidum. acabei apreciando a delícia de ter 4 dias de sossego absoluto, seja na piscina, no campo, na neve ou aqui em sampa mesmo.

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mas, em resumo, não há cristo que me faça mais me misturar com o povão, aguentar bêbados grudentos e ouvir o dia todo pagode, samba-enredo ou axé (esconjuro!)

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  1. ai, zel… essa história do menino já me fez chorar por horas, dias. e não posso nem começar a pensar que fico com vontade de chorar novamente. que coisa triste!

    sobre carnaval: ano passado desfilei pra Mocidade e adorei! hahaha. mas o que eu gosto mesmo é de descansar nessa época. se possível longe de casa, de trânsito e de multidão.

    saudadocê :o)

  2. Penso o mesmo sobre o carnaval. Infelizmente estou duríssima este ano e não poderei fugir dos foliões. Aconteceu comigo o mesmo que com você: pulei muitos carnavais por aí – Olinda, Ouro Preto, São João Del Rey, Salvador, e claro, no Rio. Um belo dia viajei para fora do país no carnaval e nunca mais quis outra coisa.

    Também moro no alto e ouço todos os blocos (sim, o maldito carnaval de rua do Rio renasceu) e o baticum de uma escola de samba pequena lá do outro lado do bairro. Argh! E eu nasci numa sexta-feira, véspera de carnaval. Ô trauma!

    Não vejo a hora de chegar março e o ano começar.

    bj

  3. Samba pra mim é suportável na primeira semana. De resto é encheção mesmo. Também acabo fugindo para regiões serranas, cidadezinhas de interior que, no máximo, rolam aqueles foliões locais com marchinhas antigas (que cá entre nós, são ótimas!).

    Pagode e funk são abomináveis em qualquer época do ano… axé só se vc estiver na Bahia, atrás de um trio elétrico – naquela situação que é melhor aproveitar que ficar de cara feia! rs

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