tolerância é bom ou ruim?

comprei uma edição da vida simples há umas semanas que falava sobre tolerância, e a matéria é muito interessante. além do óbvio “é preciso ser tolerante e blá blá blá”, eles discutem também a própria palavra: tolerância, chamando a atenção para a necessidade de mais do que simplesmente tolerar a diferença.

é preciso abraçá-la, respeitá-la, dar valor. mencionam até outra palavra melhor: abrangência. em linha com minha fixação pela precisão no uso das palavras, acho interessante a proposta. o problema é flexionar o verbo: eu tolero, eu… abranjo? 🙂

brincadeiras à parte, me reconheci no exercício crítico de perceber se de fato simplesmente tolero. bem, a verdade é que eu não tolero nada. ou eu encontro algo no outro/na situação que me faça abraçá-lo ou pode esquecer. talvez como mecanismo de sobrevivência ou simples desejo de abraçar tudo, sempre procuro as afinidades. não me concentro nos defeitos e nas diferenças (embora consiga percebê-los, com o devido empenho), mas nas similaridades e o que percebo como qualidade. é preciso me incomodar muitíssimo (mesmo) pra que eu tome a decisão de não mais conviver com alguém ou alguma coisa.

me identifiquei bastante com a questão da tolerância versus abrangência porque me reconheço como abrangente, não tolerante. e com orgulho. acho que é uma das minhas melhores qualidades.

mas como tudo tem sempre o outro lado, o seu oposto, a matéria questiona o excesso de tolerância. e quando aceitamos o inaceitável, simplesmente porque é importante aceitar todo tipo de diferença? no limite, eu caio nesta auto-armadilha: abraço espinheiros, dou abrigo ao que é e deve ser reconhecido como inaceitável. é clichê, mas também é verdade: o equilíbrio é importante sempre.

justamente essa questão (de aceitar o inaceitável) me chamou a atenção em borat: os americanos aparentemente perderam a capacidade de discernimento em função do politicamente correto. simplesmente porque o “jornalista” é estrangeiro eles aceitam comportamentos absurdos (como trazer o próprio cocô pra sala de estar num saco, por exemplo). e não há quem defenda mutilação genital feminina como “forma de cultura”? isso é tolerância do mal, é eximir-se da responsabilidade (e das consequências) de se posicionar.

por mais tolerante/abrangente que eu seja, simplesmente não aceito demonstração de preconceito. faço absoluta questão de replicar imediatamente que os comentários/piadas ou o que seja me incomodam e ofendem. não faço questão de discutir com as pessoas sobre isso, mas considero questão de honra me posicionar claramente.

nasci em uma família cheia de pessoas preconceituosas e intolerantes. sei que carrego comigo uma grande parcela de preconceito também, não é possível se livrar disso como um passe de mágica. mas acredito que praticar a abrangência e não deixar passar comentários e atitudes preconceituosos é o melhor caminho para mudar e ser melhor que meus pais e meus avós. os preconceituosos que me cercam provavelmente não mudaram por minha causa, mas entenderam que precisam demonstrar pelo menos respeito.

na próxima vez que você se deparar com alguém preconceituoso ou intolerante, confira se não está sendo condescendente. posicione-se. você pode não mudar o mundo, mas vai no mínimo mostrar que há quem se importe, sim.

One comment to “tolerância é bom ou ruim?”
One comment to “tolerância é bom ou ruim?”
  1. Zel, adorei esse post. Meu marido me chama de subversiva, brincando, porque eu me revolto mesmo quando o assunto é preconceito. Fico brava também com injustiças. Então não sei se sou tolerante com tudo, porque não tolero o que me faz mal, sabe? Antigamente eu tolerava cigarro (do tipo, faz mal pra você que fuma, pode fumar), mas passei por algumas situações na vida que, sinceramente, não tolero mais. Não mesmo. Tolero se o fumante estiver longe de mim. Perto, não, porque significa que ele está invadindo meu espaço e não respeitando o fato de que cigarro me faz MUITO mal. Então… bom, é isso aí, rs. Beijos!!! Fê.

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