a propaganda, eu e o futuro

acho que é da oi (operadora de celular) a propaganda, mas não importa, é assim: o pai agradece o filho pelo presente (um smartphone) porque consegue ver seus emails e tal. filho responde, mui educadamente (not) que “email é coisa de velho, o lance agora é rede social”.

minha vontade é dar um tapão bem dado na boca do moleque, que a polícia não meu ouça. aí me pergunto se o problema é minha educação rigorosa (especialmente quanto a respeitar pais e “mais velhos” em geral) ou a identificação com o pai e não com o filho. no caso, eu sou a “velha” sendo destratada.

o incômodo vem da combinação das duas coisas, claro, somada ao seguinte: o que as pessoas querem dizer quando falam de “rede social” no contexto da internet? pra mim é claro como o dia que rede social não equivale a facebook, orkut, twitter ou X. fui fazer uma pesquisa superficial, e o significado tá lá na wiki. como eu imaginava, rede social é um conceito já de idade 🙂 e independe do meio. não tem portanto relação direta com as ferramentas do momento que o moleque considera “coisa de jovem”. essas ferramentas simplesmente nos permitem estabelecer e manter nossas redes sociais (obviamente com um poder maior de alcance).

minha raiva do moleque até passa depois que penso melhor. os mais jovens desprezarem os mais velhos é normal, faz parte do processo de criação da sua própria identidade. demonstrar que suas práticas e conhecimentos são diferenciados e supostamente melhores também faz parte: “eu sou o futuro e vocês são o passado” ou “eu sou diferente” são posturas importantes para o crescimento e independência das novas gerações.

mas meu incômodo com as ferramentas de participação nas redes sociais online, por outro lado, só aumenta. eu, a “velha” (não me sinto pronta pra assumir esse papel!), acho o orkut um saco, o facebook confuso e inútil, o twitter uma mera distração para as horas de ócio.

antes que me apedrejem: com um pouco de esforço intelectual e boa vontade consigo achar utilidades muitas paras as 3 ferramentas. posso até contar historinhas bonitas de como reencontrei pessoas há muito esquecidas na minha história ou como um tweet pode salvar vidas (de verdade). convenhamos, no entanto, que essas histórias são as exceções. a maior parte do tempo gasto pelas pessoas nestas ferramentas é dedicada ao narcisismo, válvula de escape e tentativas de minimizar nossa carência afetiva.

em suma: queremos aparecer, precisamos de atenção (independente da internet, inclusive). graças à comodidade do meio, muitos de nós gastam mais tempo com sua rede social de bytes que interagindo com as pessoas da sua rede social de carne e osso. tá cheio de gente nas minhas redes sociais internéticas que mandam dúzias de “beijos” e “presentes” desses aplicativos bizarros mas que nunca telefonam, visitam ou mandam email um pouco mais pessoal, pra falar da vida ou distribuir carinho de forma… humana.

talvez more aí minha resistência às redes sociais de internet (especialmente orkut e facebook): eu dispenso interação eletrônica pré-formatada. ignoro os tais beijos, presentes, vaquinhas; declino convides pra “eventos” virtuais em massa. isso pra mim é passatempo de criança, que precisa de modelos de interação pra aprender como se relacionar. francamente, prefiro receber minha parte da atenção e carinho ao vivo, ou pelo menos por email/telefone quando não é possível se encontrar. tenho horror a essa preguiça crônica das pessoas de gastar tempo com relacionamentos.

a comparação do relacionamento ao vivo/internet traz outra questão: é impressionante como as pessoas podem ser diferentes dependendo do contexto, não? tem gente que via internet é legal e ao vivo é chato de marré-marré-marré; tem gente que ao vivo é super legal e na internet… eca. incrível como o meio pode revelar certos aspectos de personalidade! prefiro a consistência, sabe? aqueles que ao vivo, por MSN, twitter ou email são mais ou menos os mesmos (com tudo que cada pessoa tem de legal e chato). ainda me assusto com as coisas que as pessoas se permitem quando assumem sua persona online.

voltando ao “conflito de gerações” que me levou a escrever o post, me preocupa a forma como os relacionamentos vão evoluir (ou já estão evoluindo). canso de ver famílias em restaurantes cujos filhos estão grudados no celular, ignorando os pais e uns aos outros. e estes encontros relacionados ao uso de tecnologia então? um monte de gente junta, um ao lado do outro, cada um com seu celular ou notebook! aparentemente, compartilhar a informação com sua rede social online se tornou mais importante que se relacionar com a rede social ali ao seu redor.

é isso, então, sou velha? tenho meus perfis no orkut e facebook só pra constar, como forma de contato, não gosto de interagir nestas vias. acho confuso, superficial, narcisista e nada divertido. mas uso bastante o twitter, por outro lado. é igualmente inútil de forma geral, mas pelo menos é divertido: fico sabendo sobre o que minha “comunidade” está fazendo, uso como válvula de escape eventual. é basicamente uma forma de ócio, como era antigamente sentar na pracinha e ver/ouvir o que acontece na comunidade local.

me pergunto se estou presa às formas “antigas” de interação com minhas próprias redes sociais. festas, eventos, troca de emails, telefonemas, chat. pensando bem, minhas preferências são todas relacionadas ao contato um-a-um, mais pessoal ou personalizado.

não concluí ainda se esse apego (ou preconceito mesmo) é bom ou ruim. quem sabe meu filho, que já vai nascer imerso na geração de redes sociais online, me ensine a lidar com essas novas formas de socialização? seja como for, uma coisa eu sei: ai dele se falar comigo do jeito que o menino falou com o pai na propaganda… >:-|

15 comments to “a propaganda, eu e o futuro”
15 comments to “a propaganda, eu e o futuro”
  1. ai, amore, eu podia ter escrito quase tudo igualzinho. sou velha também, hahahahahah

    sobre a falta da interação ao vivo, já me incomodava quando era só a mania das câmeras (fotografar – e postar a foto – de qualquer coisa ou quase sempre de si mesmo ficou mais importante que viver a coisa em questão, ugh), essa onda ultraconectada então… O cúmulo é que já chegou às crianças: dia desses o pai de um amigo da Lia comentou que os moleques no prédio dele descem pro play pra ficar todos sentados, cada um grudado no seu game sei lá do quê. E eu aqui em casa sou daquelas que restringem até horário de televisão! Anciã com o maior orgulho, hahahahaa

    beijo procê

  2. ih deixa eu falar, esse é o começo…ainda bem que nao acha isso do blog, senão o que seria de nós sem suas letras. Mas em parte concordo com vc, acho orkut e face uma coisa de “mostrar-se” infinita, eu me mostro pra caramba, teve até um dia que quase apaguei tudo…. mas a gente vai levando, junto com o Chico… 🙂 e aproveita até ele te achar o máximo ( o filhão) pq depois vc fica ultrapassad. O sentimento é tipo quando ouvimos pela primeira vez: oi tia…de um desconhecido, é de lascar… ai ai

    🙂

  3. O que mais me incomoda é esse movimento para tornar o e-mail obsoleto, porque os substitutos são um horror. Nossa sobrinha não usa e-mail, por exemplo. Quando quer se comunicar com a gente, é via MSN ou Orkut! Isso lá são ferramentas para isso? Combinar uma viagem via recados no Orkut? Torcer para o outro estar online para combinar no MSN? Céus! Gmail é meu pastor e nada me faltará rs

  4. ah, sim: e eu não jogo fazendinha, bloqueio presente virtual e não abro anexo com pps (e tenho muita vontade de perguntar pra esse povo que perde tempo com essas coisas se eles não tem uma roupinha pra lavar, um trabalhinho pra entregar…) 😛

  5. kkkk

    ah, zel, eu tb acho orkut, facebook, twitter meio chatos…

    minha filha adolescente AMA essas redes, mas eu observo ela muito sozinha e isolada, sempre em casa, na frente da tela do computador… isso é relacionamento social?…

    meu filho adulto acha isso tudo besteira tb… e ele só tem 21 anos (faz 22 agora em agosto)! será que ele já está ficando velho?…

    e a caçula de 6 anos, bem… a caçula eu mando ir brincar no quintal!

    ;o)

  6. Zel, acho uma babaquice dizer que email é coisa de velho.”tá cheio de gente nas minhas redes sociais internéticas que mandam dúzias de “beijos” e “presentes” desses aplicativos bizarros mas que nunca telefonam, visitam ou mandam email um pouco mais pessoal, pra falar da vida ou distribuir carinho de forma… humana”

    Você disse tudo!

    Não me lembro se já comentei no seu blog, mas leio você faz tempo.Sempre passo por aqui para ver se o Otto já chegou:)Felicidades!

  7. Querida Zel:

    Tenha a certeza absoluta de que JAMAIS você precisará dar um calaboca violento no seu filhote SE você, desde sempre, desde o bercinho, desde a primeira mordidinha que ele der no seu peito ao mamar, repito, SE você mostrar com paciência, explicação clara e firmeza que isso não pode.

    Caso ele ousar (porque é claro que crianças e adolescentes têm de ousar), bastará um olhar 43 para que ele fique pianinho, hehe.

    Beijos e eu aqui lembrando sempre que o momento está chegando e torcendo muito.

    Cleunice

  8. Ola Zel,

    Nao lembro como encontrei teu blog mas em 2006-2007 qdo estava gravida da minha Alice.Mas lembro que a razao pela qual o fazia…nao so a nacionalidade eh a mesma mas tb porque nasci 14-3-1972 e…me identiquei em inumeras coisas e varios pontos de vista. Todo este bla bla ep dizer que minha Alice hoje tem 3 anos e que este foi tempo que fiquei sem visita-la e que me alegra , e muito, saber do Otto assim como da tua evolucao, em tudo. Tive infelizmente depre pos-[arto e por isso sumi durante 3 anos e como estou a me reconstruir…preciso de pessoas inteligentes de novo…p voltar a existir…entao criei coragem de escrever e de dar parabens p vc, pelo belo percurso mostrado aqui. Se tiver tempo escreva-responda…sera um prazer.

    carinhosamente,

    Mrs B

  9. ah! … e sim! Na tal propaganda o que me deixa espantada é a estupidez do tratamento que o filho dirige ao pai, ser encarada com naturalidade. UAU!

    Aliás, o que tem de pai e mãe com medo dos filhos…

    Educar é um tanto quanto sacal, tão sacal quanto interessante, prazeroso e envolvente.

    E tem de ser uma atitude constante, ao longo dos anos.

    Juro que vale a pena: pelo bem do filho, dos pais e da humanidade.

  10. Antes de mais nada, parabéns pela gravidez, o Otto vai ter uma mãe super legal. Quanto ao comercial, meu marido também tem vontade de bater no moleque. Mas olha, eles não usam e-mail mesmo, tenho 3 meninas e elas só usam para mandar trabalhos escolares para os professores, raramente abrem a caixa de e-mail. Agora, tem a vantagem de morar aqui, elas mesclam o virtual com o isolamento da fazenda, das pescarias, etc.

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