06.01.2001

…é urgente, eu preciso muito falar. Acorda? Por favor?

Obrigada. Desculpa. É que ouvi uma música que faz alguma coisa acontecer dentro de mim. Já ouviu falar dos harmônicos, na música? Não. É assim: quando uma nota soa, outras muitas notas soam, são os harmônicos, outras notas que vibram ao mesmo tempo, pois de certa forma fazem parte ou complementam aquela outra nota. Sempre ouvimos a nota e seus harmônicos, mas nem sempre sabemos disso (em geral não sabemos). Pois é. Mas eu sei. A música especialmente desperta essa consciência em mim — agora toca In a sentimental mood aqui, Ellington & Coltrane –, e começo a aplicar este conceito para outras coisas tais como o relacionamento com as pessoas. As pessoas especiais são aquelas que fazem soar nossos harmônicos. Ela chega perto, e algo acontece: conta-se uma piada e uma flauta lá dentro toca; um sorriso, e ouço todo naipe de violinos; uma palavra errada, e o oboé… é, o problema são as pessoas-oboé. A tristeza e alegria que elas trazem. Gosto da tristeza, entretanto. Acho até que desenvolvi um especial gosto pelo oboé, instrumento um tanto melancólico, mas suave. Faz chorar aquele tipo de lágrima que alivia, docemente. Sofrimento sem culpa, sem mágoa, sem desejo de vingança.

Consolação.

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