blogagem coletiva, mulheres negras

queria muito contribuir com essa blogagem coletiva. porque sou mulher, e sendo mulher sei o quanto pode ser difícil e incômodo sê-lo às vezes. e não estou falando de menstruar, TPM e nem parir. acho todas essas coisas inclusive muito interessantes, não sou do tipo que acredita que “ser mulher é sofrer”, até porque isso é papo de cristão atrasado.

é difícil e incômodo porque ainda há quem trate mulheres como inferiores, as considere piores ou más e invejosas intrinsecamente. como se caráter fosse definido pelo gênero. creio nas diferenças, mas não aceito pré-julgamentos ou rótulos. cada indivíduo deve ter a oportunidade de se provar, de ser antes de receber rótulos. ou sua vida torna-se mais difícil, e limitada.

queria contribuir ajudando a pensar e falar sobre a condição da mulher negra, mas como? não sou estudiosa do assunto, e sou branca. jamais saberei como é ser uma mulher negra, jamais saberei como elas são olhadas, (des)tratadas ou simplesmente ignoradas.

talvez isso seja a coisa mais importante que eu possa fazer: lembrar você, homem, que não, você não sabe o que é ser mulher, e nem sabe o que passamos; e lembrar aos homens e mulheres brancos que não sabemos e nem nunca saberemos o que é ser negro. ser negro não é como ter cabelo moicano, ou uma tatuagem, ou ser “diferente”. a menos que você tenha um chifre na cabeça ou seja azul, não compare sua condição àquela dos negros.

consegue imaginar uma situação em que sua mera existência e presença física causam aversão, incômodo e uma série de reações inconscientes que frequentemente culminam em julgamentos e às vezes violência (verbal ou física)? e que é simplesmente impossível “esconder” o que se é?

convivi com o racismo desde criança. aquele racismo mais nojento e grudento, o que não se acha racista. minha avó paterna, loura de olhos azuis, filha de espanhóis (só pra dar um exemplo. tenho inúmeros outros, de diferentes membros da família) uma vez disse numa ocasião familiar: “olha, contratei fulana pra trabalhar aqui em casa, estou espantada! sabe que ela é preta mas é muito limpinha?”. eu era criança ainda, e me lembro de pensar “como assim? o que a cor dela tem a ver com ser limpa ou não?”. lembro vagamente de algum protesto depois da frase (da minha mãe? meu mesmo?), ao que ela responde “mas gente, disse que ela é limpinha, isso foi um elogio!”.

pra não falar de comentários de “cabelo ruim”, e outros tantos que passam pelas frestas, quase desapercebidos. não duvido nada que eu mesma solte comentários racistas sem nem perceber, tão entranhado isso é no nosso dia a dia, na cultura brasileira. o racismo da piada, do escracho, que sempre tem a “saída pela direita” de dizer que era brincadeira.

não quero ser racista, não sou racista! quero ver e viver a diferença, com respeito pela etnia, opção, condição de cada indivíduo. tenho uma meta pessoal de responder a esse tipo de comentário “inofensivo” todas as vezes, não deixar pra lá. pedir respeito, explicar porque isso não se diz, porque é tão errado. é difícil e cansativo. e decepcionante, pra ser sincera. como amar e conviver com pessoas que pensam assim? não é fácil e francamente a convivência precisa ser limitada mesmo, ou fica impossível.

admiro mulheres que se impõem, se posicionam e não se deixam moldar e oprimir pelo peso do machismo; admiro em dobro as mulheres negras que têm o desafio ainda maior de superar o machismo e o racismo, que somados são mais que as partes juntas. saibam que no que depender de mim, dentro do meu minúsculo universo de influência, vocês serão defendidas. que estou criando meu filho para não ser racista e nem machista; que faço tudo o que posso para que aqueles que estão dentro do meu alcance de influência tenham mais respeito e admiração pelos que lutam por um mundo melhor, mais livre de preconceito e julgamento.

e, se me permitem um pitaco: deixem seus cabelos naturais. cabelos de negros são lindos! 😉

4 comments to “blogagem coletiva, mulheres negras”
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  1. Eu infelizmente tenho aprendido nestes últimos anos a “sentir na pele” as faces mais sutis (e por isso mais difíceis de lidar) dos preconceitos que as mulheres negras enfrentam com as minhas meninas. Tenho aprendido a me indignar também e a brigar nas esferas mais inesperadas – a bater de frente com família e com algumas das minhas próprias atitudes entranhadas de muito tempo, inclusive. Não é um caminho fácil, e o seu texto foi preciso: não pode teorizar a respeito quem nunca viveu na prática, e a gente precisa criar para este mundo pessoas mais capazes de empatia mesmo, de se colocar (de verdade!) no lugar do outro.

  2. Pingback: Ladybug Brasil | mulheres negras: uma blogagem coletiva por um mundo melhor

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