eu sei que você não acha graça nenhuma desse apelido, mas você sabe como são os seus pais, cheios de graça. e tem mais graça ainda porque você tem essa carinha de constante mau humor (você bem que podia fazer parte do disapproving rabbits na versão furão! tá, sem idéias engraçadinhas, eu sei).
groo é seu nome, escolhido quando você já tinha 4 anos e veio morar com a gente. nunca vou esquecer como nos conhecemos: primeiro através de um telefonema do seu pai, cujo encantamento por você chegava pelo telefone claro como cristal. ele se apaixonou desde o primeiro olhar, no dia em que você ficou quicando pela casa do seu antigo dono – diz que você parecia uma criatura possuída e pulava feito doido.
naquela ocasião achavam que você era uma menina (eu sei o quanto é ridículo alguém confundir você com uma menina, mas a história é essa) e seu ex-dono chegou ao ponto de chamar você de didi! absurdo. quando pus os olhos em você percebi que se fosse mesmo uma fêmea, seria no mínimo uma fêmea diferente. como você era lindo e enorme! foi bem depois que percebi sua semelhança com o furão do quadro do da vinci, mas me apaixonei imediatamente, apesar do seu mau humor.
sendo fêmea, eu queria chamar você de alice, aquela personagem que era a melhor amiga da olívia palito (ninguém lembra dela, só eu). mas minha suspeita foi confirmada pelo veterináro, que revelou que você era bem macho, e batizamos você de groo. o nome apareceu como milagre, e nenhum animal jamais teve tanta cara de GROO!
você ficou com a gente só quatro anos, metade da sua vida, mas pra nós é como se fosse a vida toda. e nossa paixão só aumentou com o tempo, conforme você foi perdendo o jeitão tosco e aos poucos (bem poucos…) se tornou mais carinhoso. você nunca se tornaria um furão meloso e carente (até porque essa é a antítese do furão), mas você aceitava o nosso carinho e até parecia gostar da nossa companhia. e da comida, é claro, parte importante do seu apreço por nós 🙂
tenho muitas lembranças lindas e divertidas de você, mas a minha preferida é você dando um tapão no gollum, mostrando quem mandava na casa. e isso era outra coisa maluca – você achava que era um gato, às vezes. seu ex-dono nos contou que você foi criado com gatos, que aliás detestavam sua presença mustelídea (certamente porque você não deixava os pobres em paz um só minuto). você aprendeu com eles como usar as patas, e a gente adorava ver você imitando felinos.
outra coisa gostosa de ver era você comendo – você sempre foi um comilão sem-vergonha. era uma delícia ver você sentadinho na frente do potinho e comendo com tanto gosto. esses últimos 6 meses foram tristes, porque você já não dava mais tanta bola pra comida. foi difícil ver você deixando a vida de lado, aos poucos, enquanto a doença tomava conta do seu corpinho.
nós o amamos em todos os momentos que você esteve conosco por aqui, e saiba que continuamos amando. amamos você ainda mais nas horas mais difíceis, quando você ficava mal ou quando estava quietinho no nosso colo, nos últimos minutos, resistindo pra ir embora. você sempre foi o mais forte, até o último suspiro. bem mais forte que nós, que ficamos aqui com o coração em pedaços quando tivemos que nos despedir.
sei que você viveu tudo o que havia pra viver e que são poucos furões que chegam à sua idade, você foi um vencedor. não foi fácil ver você partir, mas pra nós era essencial estar lá nesse momento, segurando sua patinha. mas você merecia não só nosso amor, mas principalmente nossa presença, garantindo que sempre olharemos por você.
sentiremos sua falta. mas eu, diferente do seu pai, creio que nos encontraremos um dia, assim como sei que você está agora com o pastel, o pixel e o gollum (a boy’s party!). não importa qual crença está correta – nos encontraremos na minha versão do paraíso (um lugar cheio de furões e todos os outros bichos) ou na união das partículas todas que formam o universo.
você, de certa forma, vive em nós, e enquanto estivermos aqui, você também está.
um afofo dos seus pais, gorducho, descanse.
* 16/4/2000, +12/04/2008