Delícias Cremosas

Ah, as mulheres...

Terça-feira, Outubro 19

Elas preferem os cretinos
Fogo morro acima, água morro abaixo e mulher quando quer, ninguém segura. O provérbio, grosso, é tão verdadeiro quanto dizer que, para os homens, mais importante do que sair com uma garota é poder contar vantagem para os amigos depois. Toda mulher sabe ser dura na queda, mas, quando cisma de dar mole, vai com tudo para cima. Um cara pode correr a maratona para impressionar uma mulher e mesmo assim ficar com a tocha olímpica na mão. Para elas, basta uma voltinha no quarteirão que o trouxa entrega o ouro, a prata e o bronze.

O mundo é injusto, mas nunca a nosso favor. E a mulher, assim como a sorte, prefere os cretinos. A última frase não é minha, mas de Bertolt Brecht, dramaturgo alemão que viveu em cabarés, cercado de atrizes bonitas que o achavam um homem excepcional, mas não a ponto de ser levado para a cama, que isso é prêmio reservado aos idiotas. Pergunte a qualquer uma o que acha dos homens com quem saiu e a tese estará confirmada: é tudo palhaço.

Já vi uma amiga, linda, burguesa, pegar trem sozinha para Itaquera, de minissaia, só para prestigiar a churrascada do eleito, feio que nem a dor da morte. Ficou por lá, foi dada como desaparecida pela família. O caso durou apenas uma semana, o suficiente para a zona leste inteira saber do ocorrido, tamanho o estardalhaço promovido pela luta de classes do casal.

Um colega professor, nerd de dar dó, casado de usar coleira, foi a Manaus para uma palestra e se deparou, no saguão do hotel, com uma aluna de São Paulo que enfrentou 11 horas de vôo só para ver no que ia dar. Viu e deu. Determinação como essa só é comum quando desce uma pomba-gira básica.

Toda mulher está sujeita a esses arroubos. O problema é que isso sempre ocorre com o babaca errado. Poucas podem jactar-se de jamais ter tropeçado no último degrau da escala humana. Não importa o motivo: momento de fraqueza, auto-sabotagem, curiosidade mórbida, seca brava, coma alcoólico, perversão inconfessável. Tanto faz.

O fato é que toda mulher um dia se verá nos braços de um imbecil, aos trancos e barrancos com um trolha qualquer. É uma síndrome que batizei de pico de curva hormonal feminina. Em determinado momento, dentro de um período relativo de abstinência, sem se dar conta, a mulher é pega por uma vertigem irracional e se atraca com o primeiro que aparece. Nunca sou eu.


Texto do Marco Antônio Araújo, na Revista da Folha dessa semana. Pior é que ele está certo, viu.