(sem título)

memorabilia (*)

e pra quem não percebeu, o “big brother” versão blog acabou: não mais haverá aqui notícias do meu dia-a-dia. por isso não há mais datas, por isso não importa a hora. isso aqui, há algum tempo, é mero exercício de escrita, de estilo e da falta dele. é agora o apanhado de sentimentos de uma vida, mexidos pelo que se apresenta aqui e agora, uma arqueologia do que fui, de quem sou, adivinhação em letras, oráculo de mim mesma, memórias, desejos e invenções.

descobri que fui patética por muitos meses na fase “querido diário”, e me envergonho disso às vezes. às vezes dói. sim, fui muito medíocre no conteúdo, deslumbrei-me com minha própria vida, dei a ela cores que encantaram alguns e incomodaram outros (e creio que despertar essas sensações, no fundo, é meu grande dom). mas meu exercício não foi em vão, creio: foi como usar matéria-prima errada para as ferramentas que possuo. descobri aos poucos que levo jeito com a forma, eis que ela se aprimora! sei usar as ferramentas, sim. reaprendi a escrever muito e cada vez melhor, a garimpar palavras e sentimentos. achei uma veia que se escondia, além das tantas outras coisas que acabaram expostas nessa vitrine. recebi pedras que arranharam minha auto-estima, recebi flores que me consolaram temporariamente. mas (que bom!) nada disso é mais tão importante; o mais importante é comunicar o que transcende o que tenho de medíocre, procurar o que em mim é mais.

esqueço aqui meu dia-a-dia, minhas questões simples, meus desafetos tão medíocres quanto minha parcela que se importa com eles. deixo do lado de fora o xampu que acabou e a última trepada, por mais sensacional que ela seja. me provei (para mim mesma) capaz de transcrever a vida e dar a ela cores e sons, a comover. usei minha própria vida como laboratório para descobrir a que vim, e sofro ainda as conseqüências da minha temerariedade. deixei de transformar minha vida em obra rara, estou simplesmente vivendo. aqui, quero somente transformar o que é memória e sentimento em prosa.

isto não é mais um diário, não. é um sentimentário.

(*)

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