SOBRE PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS, meus 2 centavos.

Detesto essa onda de mulheres mexendo na cara e no corpo quando envelhecem a ponto de parecerem o Fofão ou aquelas travestis caricatas da década de 80.

O motivo para as travestis caricatas fazerem tamanha intervenção nos seus corpos é o mesmo que leva Madonna e outras a fazer a mesma coisa: a necessidade de atender o padrão patriarcal e machista de mulher COMÍVEL.

Nada na nossa sociedade machista e paucêntrica é suficiente pra uma mulher ter valor, além de estar em dia na escala de mulheridade atraente, a saber:

  • Cabelos de jovem adulta, longos, volumosos, esvoaçantes. Cabelo LISO, no máximo ondas sob controle
  • Cara esticadinha, sem rugas, sem manchas, impecável. Com maquiagem porém não muito. “NATURAL”. Branca, lógico. No máximo uma corzinha de sol
  • Corpo magro, liso, e não pode ser muito forte. Sem pêlos. Não pode ser tão magra também não, tem que ter carne no lugar certo.
  • Ter libido, mas não demais. Só o suficiente pra nenhum homem se sentir ameaçado
  • Se vestir bem, SE CUIDAR, parecer sempre linda
  • Ser inteligente, mas também não muito. Nada de eclipsar nenhum homem, deusnoslivre

Com 50 anos eu tou mais inclinada a NÃO continuar cedendo a esse padrão, depois de tantos anos tentando (e falhando). Tentei ser mais magra (mil elogios, mas não sou bonita o suficiente pra receber biscoito do patriarcado), não tenho como ser mais alta, morro de preguiça de maquiagem e arrumações em geral a real é que desisti.

Mas a pressão continua. Cada vez que vejo uma foto da Cláudia Raia aos 56, grávida e com aparência de 35 eu me sinto derrotada. Esse tipo de valorização e premiação constante da mulher que se adequa ao padrão exigido é um tapão na cara de cada uma de nós que não consegue (seja pela genética, conta bancária ou tempo).

Essa semana no LinkedIn vi um post de uma moça de menos de 30 anos mostrando seu antes (gorda) e depois (super magra), falando que ela se sentia derrotada, deprimida, e infeliz. Eu agora, porque perdeu peso, está autoconfiante, alegre e produtiva.

Ela não mudou de emprego, não fez nenhum curso, não aconteceu NADA além de ter feito 1001 coisas pra perder peso, e conseguiu. A aparência dela era o fator que tornava sua vida infernal.

Os comentários? Todos elogiando, parabenizando pela conquista e pelo mérito. inúmeros comentários sobre seu caráter, força de vontade, disciplina, foco e amor próprio.

Quem é gordo ou parece velho não tem amor próprio, disciplina, foco, caráter? Não tem vontade de viver, desejo, alegria? É exatamente essa a mensagem que recebemos todos os dias, TODOS. Várias vezes por dia.

Elogios sobre termos emagrecido (para os gordos como eu) ou por parecer jovens (para pessoas mais velhas como eu) são só mais um reforço de que precisamos nos adequar. Emagreça! Pareça jovem! Senão… nada de biscoito pra você. Pode ir pro cantinho ali, onde ficam os gordos, os feios, os velhos, os deficientes. Os que ninguém quer ver porque não servem pra exposição, porque não são comíveis, porque não servem à sociedade de consumo.

Acho certo massacrar Madonna, Cláudia Raia, porque fazem das tripas coração pra parecerem jovens? Não. Mas sim, me ressinto delas e de todas que sucumbem, porque cada uma de nós que sucumbe enfraquece a outra.

Não me cabe criticar as escolhas pessoais de ninguém, afinal elas não têm obrigação de nos ajudar a sentir que pertencemos e temos valor mesmo quando não estamos no padrão que a sociedade espera.

O que fazer?

Vou dizer o que EU faço, e se servir pra você, me abraça.

  • Não sigo perfis de mulheres que vivem em função de sua aparência. Da Madonna, por exemplo, prefiro ouvir as músicas. Mesmo atrizes como Zendaya, que é maravilhosa, se você seguir só vai ver foto de uma mulher lindíssima magra fazendo pose. Pra quê?
  • Não leio e muito menos compro “revistas femininas” há 30 anos. Desperdício de papel, só faz a gente se sentir inadequada.
  • Busco seguir e ver mais mulheres reais. Trans, travestis, velhas, jovens, porém reais. Começou a colocar foto lotada de filtro e AIN SOU SEXY, tou fora.
  • Tento fazer minhas próprias fotos o mais reais possível. Claro que quero me sentir bonita na foto, mas não vou alterar, não vou fazer pose que não existe na vida. Eu quero que as pessoas me vejam como eu estou. Eu não sou minha aparência, nossa casca MUDA.
  • Tento ser tão gentil comigo mesma como sou com outras pessoas. Eu enxergo a beleza nos outros, em todas as idades. Por que não fazer o mesmo comigo? É difícil mas eu tento.

Eu quero ser pras minhas irmãs, amigas, colegas, vizinhas e todas as mulheres que cruzarem meu caminho o apoio e exemplo que eu desejo. Isso inclui não ceder à pressão da sociedade e ficar com essas bochechas assustadoras que gritam “SOU JOVEM, TÁ VENDO?!”.

Não sou jovem, nem magra. E eu existo e tenho valor também. (Repita mil vezes por dia até acreditar. Eu tou nessa luta)

Um beijo, Jamie Lee Curtis ❤️

Deixe um comentário