É incrível o poder do olfato pra acionar memórias. Não sei se é assim pra todo mundo, mas minhas memórias tem cheiro, cor, som, textura, sabor, tudo.
Estou fazendo uma geleia de morango, e o cheiro me transporta direto pro ano 2000. Morava sozinha num apartamento imenso, e cozinhava só pra mim a maior parte do tempo. Fazia dieta (sempre parte da vida), e a geleia de morango com adoçante era das poucas coisas que me permitia. Amava comer a geleia de fruta, me sentia feliz e saudável (mal sabia eu que saudável mesmo é não ser neurótica com comida), e a casa toda cheirava a morango quando eu preparava. Lembro da luz da manhã, enquanto comia minha geleia cremosa e brilhante no pão.
Passei umas semanas ouvindo um livro (A hospedeira. Amei) e por algum motivo ouvi bastante no carro, indo pra vários lugares. Na mesma época o Fer tinha colocado no carro um daqueles cheirinhos, que se espalham quando a gente liga o vento. O livro acabou, comecei outro e estranhei na primeira vez que entrei no carro e outra historia começou! o livro não combinava com o cheiro
os livros foram mudando, mas o cheiro no carro vai sempre ser a história de Wanda, assim como geleia de morango sempre serão as manhãs da Fernando de Albuquerque.