senta aí que eu vou contar

pois o livro de auto-ajuda que eu li é o monge e o executivo. um dos meus “funcionários” (argh, eu detesto chamá-los assim. colaboradores é horrível também. colega de trabalho que eu lidero, talvez?) me deu de presente, com dedicatória fofa e tudo. ele é uma das pessoas que eu mentorizo, e como é fã do livro, resolveu compartilhar.

mas antes de falar desse assunto, uma palavrinha sobre auto-ajuda: a paula escreveu um post imbatível sobre o tema, então sobre isso nem vou comentar. só quero acrescentar que sou do time que tem preconceito com livros de auto-ajuda, principalmente porque tenho sempre a impressão que eles nos chamam de burro. concluí que sim, somos burros às vezes, e é exatamente por isso que precisamos de alguém nos explicando coisas como se tivéssemos 5 anos. reconheço em mim mesma uma burrice crônica a respeito, por exemplo, de saber dizer não. e sou uma porta quando se trata de compreender meus próprios sentimentos. me sinto burra porque sou burra 🙂

já perceberam que boa parte destes livros usa metáforas simples e parábolas rasinhas para dizer coisas… óbvias? porra, mas se são óbvias e eu entendi imediatamente quando li (e só falta o autor gritar “sacou, sua burra?!”), por que diabos eu faço tudo errado?

a pergunta me leva ao assunto que quero falar de verdade: a práxis. esse tema tem aparecido na minha vida (embora não com esse nome) há anos, e só agora me dei conta da importância dele, graças ao livrinho (pra saber o que achei dele, leia a continuação do post).

talvez por estar praticando ioga há alguns meses (e percebendo a diferença enorme que faz na minha vida), a ficha finalmente caiu: é preciso agir para que as coisas aconteçam. e isso não é força de expressão, quando digo agir quero dizer fazer coisas, executar, de forma concreta, interagir com pessoas e comigo mesma.

na terapia, eu perguntava com freqüência a mesma coisa: entendi o que eu faço errado, mas… como eu mudo? e a santa liliana sempre respondia sorrindo: mudando, fazendo diferente. eu achava que entendia, mas não entendia. o gerúndio é mais que uma flexão verbal, neste caso, é a indicação de que é preciso executar algo continuamente.

como fazer para deixar de ser sedentária? levantar a bunda do sofá e se mexer, sempre. como fazer para dizer não? cada vez que aparecer a oportunidade, abrir a boca e emitir o som – N-Ã-O.

eu sei que parece ridículo, mas não é. práxis significa concretizar, tornar real, o que é teórico ou idéia. acho que devíamos dizer faço, logo existo, e não penso, logo existo 🙂 talvez essa sacada seja óbvia para algumas pessoas que executam E pensam na mesma medida, mas eu definitivamente penso (e viajo) muito mais do que executo. talvez por isso meu trabalho me dê tanto prazer e ocupe tanto da minha vida – é justamente o espaço da concretização, é onde eu consigo executar o que penso com freqüência!

o livro fala sobre o amor de um determinado ponto de vista, e de como é importante praticar atos de amor para que o sentimento se concretize, e não o contrário. ao invés de esperar sentir amor pelo seu próximo, aja com amor e o sentimento vai se tornar real. com ações simples, transformamos o mundo ao nosso redor e a nós mesmos. pratiquei essas mudanças durante o período de terapia sem saber porquê (só sabia que funcionava!), graças à orientação da terapeuta. hoje percebo que ela estava me ensinando a mudar meus mapas mentais e sentimentos equivocados através da prática de ações diferentes, mais alinhadas com os meus desejos mais profundos.

agora eu sei o que fazer, e essa não é a parte mais fácil, diferente do que eu achava. é dificílimo se mexer, sair da inércia. e é exatamente isso que anda me matando ultimamente – a sensação de estagnação, preguiça crônica, imobilidade.

mas tenho fé, sei que vou conseguir. ir para a ioga 2 vezes por semana já é um avanço enorme, e estou feliz com a mudança (até porque a própria ioga trabalha a questão de ser-estar-realizar, no presente). passinhos de bebê, é verdade, mas na direção certa!

(e na próxima oportunidade, falarei sobre metáforas e parábolas)


sobre o livro

o que eu gostei:

– apresentação de idéias e conceitos excelentes e úteis, que fazem pensar e ajudam a fazer auto-análise

– a história é fácil, convincente a maior parte do tempo e gostosa de ler

– demonstração de conceitos complexos usando exemplos que qualquer pessoa pode entender

o que não gostei:

– excesso de citações eruditas disfarçadas em diálogos um tanto improváveis na vida real. não consigo ver kierkgaard sendo citado naturalmente numa conversa informal sobre liderança, mas pode ser preconceito meu 🙂

– jesus cristo é citado como o maior líder e blá-blá-blá. o que me irrita é usar a bíblia como documento histórico que descreve quem foi jesus e como ele se comportava, e isso é no mínimo uma inferência muito forte. usar os preceitos cristãos e a bíblia como referência está OK pra mim; dizer que jesus FOI assim eu acho forçar demais a barra, porque pressupõe sua existência (eu tenho dúvidas)

– uso excessivo de adjetivos (irrita) e uma série de sinônimos para encobrir a repetição inevitável

– pode ser problema de tradução, mas vira e mexe um personagem “grita” alguma coisa com alguém, no momento da resposta. pode ser que o verbo seja gritar mesmo, seja porque o personagem é sem noção, seja porque se empolgou, sei lá. mas convenhamos, é esquisitíssimo uma pessoa gritar respostas num diálogo normal…

considerando que li o livro em mais ou menos 3h, acho que os prós compensam os contras. me fez pensar no meu preconceito contra auto-ajuda e sobre a práxis, o que não é pouco.

7 comments to “senta aí que eu vou contar”
7 comments to “senta aí que eu vou contar”
  1. Oi Zel! Nossa, me identifiquei totalmente com este post. Ando me sentindo completamente “apráxica”, veja só e eu nem sabia o que era práxis….. Também detesto chamar as pessoas que trabalham comigo de “funcionário”, mas chamar de “pessoas que trabalham comigo” é comprido demais. “Subalterno” então, é um termo cunhado no inferno. Acabo chamando de “membro da minha equipe”… Mas sei la viu. Um dia ainda resolvo assumir o chicote e começo a chamar de escravos mesmo…..

  2. Oie, boa tarde!

    Nossa, q surpresa, encontrei com vc sem querer procurando umas coisas na net.

    Acho q vc não se lembra de mim, eu sou a Camila que trabalho na Execplan (uma das estagiárias) na época em que vc dava consultoria.

    Bom, espero q tenha lembrado, fiquei feliz em te encontrar, espero q não se importe de acompanhar seu blog.

    Bjs,

    Camila

  3. carta-carta-carta-carta-carta…

    Sinta os dedinhos dos pes, depois sinta os dedinhos das maos, comece a movimentar lentamente suas pernas e seus bracos, siiiinta sua respiracao, movimente-se lentamente……….

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