universos paralelos

ontem, graças à denize, fui apresentada a um mundo que eu desconhecia completamente — os blogs de moda. conheci ontem o portal f*hits, o shame on you, blogueira e em especial o blog da mariah.

acho que não consigo expressar pra vocês o choque de conhecer uma realidade tão… paralela 🙂

pra começar porque eu realmente não tenho nenhuma familiaridade com o mundo da moda — o assunto só me interessa de forma conceitual (desfiles de alta costura, e ainda assim de estilistas bem diferentes, que ousam a ponto da roupa ser impossível de usar). ou seja, essa coisa “look of the day” pra mim é bizarro! e pra terminar porque eu realmente não gasto 1 centavo a mais em nenhuma roupa por ser “de marca”. minhas escolhas de vestuário são 100% direcionadas por praticidade, conforto e durabilidade. não me importo de pagar caro por uma peça, mas os meus critérios são mais relacionados ao quanto ela se encaixa no meu guarda-roupa e vida, e é versátil e durável. por exemplo: um bom terno, com bom caimento, é uma peça que eu compro sem me preocupar com o preço, pois sei que usarei muito no trabalho, por muitos anos. não é o caso de um vestido de festa, por exemplo, que uso a cada 10 anos 🙂

meu interesse em design é muito maior em decoração e utilitários, e menor em roupas. e veja bem — não é que eu não dê valor. é que muitas vezes não acho bonito mesmo, ou não acho que o preço vale a peça. um exemplo: louis vuitton. acho muito, muito feio. e apesar de entender o conceito do design assinado, identidade visual e etc. eu não compraria e nem usaria, jamais.

mas voltando aos blogs de moda: li a que mete o pau nos “blogs de moda”, e francamente não gostei. tem algumas coisas engraçadas, sim, porque é engraçado rir dos erros alheios, uma coisa meio videocassetada, ok. mas não gostei do rancor nas entrelinhas, depois de um tempo lendo ela pegando no pé por causa de erros de português nos textos o blog fica chato.

e li a mariah, que é o total universo paralelo. ela é linda, jovem, magra, cabelão liso, simpática e muito rica. é casada com piloto de avião, mora em cidade rica do interior de SP, casou numa cerimônia dupla, com a irmã, num evento de cinema. mariah é a princesa dos tempos modernos!

o blog é sucesso absoluto. centenas de comentários, pedidos de dica, declarações de amor. e ela é doce e querida com todo mundo. mesmo que o texto dela não seja um primor, e não é, é totalmente OK. dá pra ler numa boa e (mérito dela, não podemos ignorar) GOSTAR dela.

que fique claro que aquele estilo, estética, modo de vida não me interessam, não são meu sonho ou ideal. nem aparência, nem tipo de vida. ser tão rica quanto ela seria bastante conveniente, é verdade 🙂 mas de resto, diferente da autora deste ótimo artigo sobre o blog, não tenho absolutamente nenhuma inveja dela. admiro o quanto ela é bonita, bem sucedida e aparentemente feliz, acho massa.

o mundo da mariah é fora da realidade das centenas ou milhares de mulheres que seguem a vida dela, as fotos, os looks, eventos. elas perseguem um sonho. que provavelmente nunca vai se realizar, mas, well. e não é assim também com as revistas de moda, de celebridades? as mulheres passam a vida comprando revistas pra sonhar com looks, coisas e uma vida que jamais terão. muito antes dos blogs isso já era assim, desde que o mundo é mundo.

não sei se é exatamente ruim pessoas “comuns” perseguirem esse sonho, admirarem o ideal. é importante ter metas, mesmo que sejam em teoria inatingíveis. entender que não se pode viver só de sonho, que é preciso correr atrás, é responsabilidade de cada um, de cada uma.

pensando como feminista, ter como meta de vida ser a mariah é triste. não porque ser a mariah é errado, mas porque é apenas 1 em 1 milhão de possibilidades de ser uma mulher bonita, bem sucedida e feliz. o modelo dela é apenas UM dos modelos.

da minha parte, continuarei a não ler revistas de moda / femininas e provavelmente vou enjoar do blog da mariah bem rápido, apesar de estar encantada com o universo cor-de-rosa dela (como quem se encanta com os flamingos no zoo, sabem?). porque não me identifico, porque não gosto que me digam o que é “certo/errado”, o que é “in/out”. não me comparo com outras mulheres, busco meu próprio caminho porque me reconheço como única.

uma parte de mim deseja que as leitoras destes blogs de moda, da mariah, as fãs de celebridades se enxerguem melhor, e tracem seus próprios caminhos, descubram sua beleza, seus gostos, sem precisar do espelho da madrasta para validá-las. sem precisar envenenar ninguém para atingir sua plenitude de beleza e felicidade.

update: uma coisa que esqueci de mencionar que uma coisa que a shame on you, blogueira faz que eu acho bem importante — “desmascarar” essa impressão de que as moças escrevem sobre produtos sem receber nada. propaganda deve ser identificada como tal, concordo 100%!

11 comments to “universos paralelos”
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  1. eu leio muitos blogs de moda, zel, mas confesso que não sou a consumidora padrão daquele estilo de vida. Não invejo em nada (talvez nisso eu seja como você: admira como quem se encanta com flamingos no zoo). Igual com os blogs de maquiagem, já deu uma volta? Aproveito algumas dicas de produtos e só. Mas me dá uma CANSEIRA de pensar em viver em torno daquilo e eu só consigo pensar o quanto de maquiagem vencida essas meninas devem ter em casa. 😛

    • kátia, de maquiagem eu não leio NADA, porque realmente não consigo me interessar. maquiagem pra mim é rímel, lápis de olho e batom. e esses 3 aí eu uso MUITO pouco. rímel e lápis tipo 2x no ano, batom QUANDO MUITO 1x/semana. veja bem. ME JANE, YOU TARZAN 😀

  2. Uia, e eu que tenho uma colega de faculdade que e blogueira de moda *famosa*? Largou o direito porque o marido (milionario, logico) *abriu um blog* para ela. Eu leio o dela as vezes por curiosidade antropologica e conheci essa que detona as outras por um link no Twitter quando ela foi desmascarada. Confesso que nao me sinto confortavel com a ideia de tomarem essas pessoas como “role models”, por mais boazinhas e inofensivas que elas sejam. E meio aquela coisa Paris Hilton, ser famosa por ser famosa, sem sentido ou objetivo. Definitivamente um modelo a nao se seguir, mas dai a criar um movimento “hate” ja e demais.

  3. O que mais me incomoda nesses blogs é o tom dessas meninas. Cheias de “pode” e “não pode” que não sei a quem faz bem. Sem falar da perpetuação de ideias prontas que são um desserviço a quem quer viver com mais conforto, liberdade e tranquilidade.

    Hoje, curiosamente, passei por um que dizia que quando se deixa de usar salto alto é porque há descaso com a feminilidade e negligência com a sensualidade. E ficamos aí, reproduzindo infinitamente esses padrões. Só bocejo, rs…

  4. Não sigo blogs de moda,e nem os conheço, gosto de andar e me vestir como desejo e me sinto bem.
    As vezes olho algum blog de maquiagem mas jamais para seguir tendencia alguma mas porque adoro me maquiar e gosto de ver as novidades,aprender alguma dica,enfim, adoro o recurso da maquiagem para brincar principalmente com os olhos.
    Mas sem seguir regras e sim fazendo o que me agrada.
    Um beijo!

      • hahahahaha sim,como experiencia antropológica é perfeito!
        Entrei neste blog da Mariah,que nem sabia da existencia,e não consegui me concentrar mais de 10 minutos em leitura alguma(hoje a noite devo entrar de novo para mostrar ao meu marido hahahaha).

        O lance é que fico imaginando o quanto não se martirizam estas meninas mais jovens de ver todo aquele mundo de glamour e beleza,e riqueza,e ter que levantar no outro dia cedo e pegar o busão pro trabalho,ralar direto e reto,como todo mundo que vive o dia a dia..Deve ser para muitas algo muito frustrante e creio que segurar a onda para muitas meninas não deve ser fácil.
        No fundo vejo estes blogs fazendo algum desserviço nas conquistas femininas ao longo dos anos(não por sua autora,que vive aquela vida y punto y pelota) mas pelos valores que mostram de beleza,juventude ,riqueza,que é o que a sociedade( e aí no Brasil é mais cruel que em muitos lugares) segue cultuando como o modelo e padrão corretos.Minha bronca vai mais por aí .
        Enfim, o povo gosta de seguir a vida de quem “vive del cuento” .

        • eu acho um horror também. mas isso é tão humano, e parece que vem desde sempre, então nem me revolto mais. me concentro em dar exemplos diferentes pras meninas que convivem comigo, pra que elas saibam que não é preciso ser a mariah pra ser feliz 🙂 beijo!

  5. Particularmente, eu acho esses blogs perversos e detesto a lógica que os sustenta. Fui dar uma olhada num desses que vc menciona, e ele começava assim: “Todos os dias acordo numa vontade enorme de usar camisas de seda.” Gente, eu me pergunto, em que mundo essa criatura vive, que perspectivas ela tem, que valores são esses???? Pois eu acordo com vontade de amar, de caminhar no sol, de ler um livro bacana, de descobrir um fotógrafo novo, de passear com a minha filha, de, sei lá, de fazer planos com quem eu gosto, ou de simplesmente ter um dia de trabalho tranquilo! Que coisa mais pobre é “acordar com uma vontade enorme de usar camisas de seda”!!!! Eu tenho uma situação econômica confortável, mas juro, o que menos me motiva na vida são “camisas de seda”, aliás, acho que nunca tive uma, e essa obsessão pela imagem, que coisa triste! Há tanta gente bacana que usa jeans com camiseta e tênis, tudo marca “diabo”, gente que está acima/abaixo do peso “ideal”, gente com cabelo “ruim”, baixa ou alta demais, com rugas ou espinhas, gente que não conhece e nem quer saber de marcas famosas, mas que tem algo a DIZER! A mostrar, a encantar! Gente que lê, que estuda, que vai ao cinema, que ama, que trabalha, que produz! Há tanto talento nas pessoas, tantos interesses, nos lugares menos glamourosos, que coisa triste e doentia essa sociedade da aparência… Eu acho um desserviço às mulheres, que já sofrem com tantas cobranças no cotidiano. Acho de uma pobreza mental e afetiva absolutas, de um vazio existencial absurdo, não entendo realmente como alguém perde tempo sonhando com “camisas de seda”.
    No mais, desculpe pela extensão do comentário, é que me entristece ver que o mundo em que minha filha terá que crescer ainda é tão perverso com as mulheres, e tão pobre em valores.

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