para minha mãe

Mãe é norte, lastro, âncora. Sopa quente num dia frio, chá na doença, cama fofa quando estamos cansados. Pra mim, mãe é acordar de manhã junto com o sol com uma carícia, um cafuné, e com cheiro de café recém passado. É a cozinha sempre cheirosa de coisas boas, é roupa lavada e dobrada com cheiro de sol. É a estante de livros cheia de histórias novas, uma pilha de LPs e inúmeras fitas cassete compradas na Praça da Sé, com as canções do momento. É o salto alto, a maquiagem, a beleza além de qualquer alcance (minha mãe sempre foi a mulher mais bonita que eu conheço), o sorriso que ilumina a casa toda, mesmo nos invernos mais tenebrosos. Mãe é também virar amiga, quando a gente deixa de ser criança, e saber ouvir e silenciar, quando não tem mesmo o que dizer. E, pra sempre (porque ela vai viver sempre dentro de mim), a voz da razão, aquela que me falta tantas vezes. A voz que diz “acredite nos seus instintos” e “não confie cegamente nas pessoas”. São 42 anos e ainda não aprendi, mas não é por falta da voz falar Nossa jornada é bonita. E quando a bússola quebrou, faltou, percebi finalmente que o trabalho dela foi perfeito, e agora eu também posso ser Norte, lastro, bússola. Foi com orgulho que dei a mão e o colo pra ela, que sempre foi meu chão.

Ninguém “é” mãe. A gente se torna, quando encontra em si a força e amor para estender a mão, olhar no olho e dizer a verdade, acolher quando não há o que dizer, e ir pra cozinha passar um café quando tudo o mais falhar.

Me tornei mãe bem antes de sê-lo biologicamente. Além da minha mãe, minha pedra fundamental, tive muitas mães nessa vida, várias delas homens. Meu filho me ensinou (devagar, e ainda ensina) a ser mãe de um ser humano em formação, a experiência mais louca e incrível que já vivi. A parte mais bonita de ser mãe de um ser humano que se forma é reviver, cheia de espanto, o processo de tornar-se humano. E assim também apaixonar-se pela vida, pela delicadeza dos detalhes milagrosos que assistimos todos os dias.

Ser mãe é aprender a enxergar (e amar) a trama da vida.

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Mami Vera, sempre te amei, mas você tinha razão: a gente ama ainda mais nossa mãe depois que tem filhos. Obrigada por me escolher, e por sempre me apoiar.

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