poemas

publicados pela cora ronai, e eu roubei.

 

Tatu, de Reynaldo Jardim

 

O tatu é um bicho

trancado em si mesmo.

O casco esconde

seus pensamentos.

Ninguém procurou

sondar seu destino.

Ninguém tratou

de industrializá-lo.

Fazer de seu casco

objeto de adorno.

Fazer de sua carne

um creme ou um bolo.

Fazer de sua furna

um túnel do inferno.

Fazer de seu mundo

um verso moderno.

É preciso chamar

todos os jornais.

Indagar do tatu

o que é que ele faz.

Se dorme ou sonha

em seu jeito patético.

Se prefere os novos

ou se é dos herméticos.

Se prefere Picasso

da fase azul.

Os poetas do norte

os pintores do sul.

Se vive contente

se está bem de sorte.

Como vai seu blindado

e duro capote.

Se joga xadrez

ou quer morar nele.

Se prefere Paul Klee

ou os cronistas mundanos

Se troca de casca

em que dia do ano.

Se prefere os alíseos

ou o minuano.

Se já foi eleito

entre os dez mais tatus.

Se respeita o passado

ou quebra tabus.

 

Ninguém quer saber

o que pensa o tatu.

Ninguém se importa

com a sorte do bicho.

Trancado em seu casco

e fechado em si mesmo.

Sem caminho certo

ou rosa dos ventos.

No grave suicídio

do seu pensamento.

 

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de Sidônio Muralha:

 

Quando um tatu

encontra outro tatu

tratam-se por tu:

– Como estás tu,

tatu?

– Eu estou bem e tu,

tatu?

 

Essa conversa gaguejada

ainda é mais engraçada:

– Como estás tu,

ta-ta, ta-ta,

tatu?

– Eu estou bem e tu

ta-ta, ta-ta,

tatu?

 

Digo isto para brincar

pois nunca vi

um ta, ta-ta,

tatu

gaguejar.

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