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o primeiro acidente doméstico a gente não esquece

June 4, 2013 · 2 Comments

neste domingo, no finalzinho do dia, tivemos nosso primeiro acidente doméstico importante (ou seja — que precisou de exames/intervenção): o otto prendeu os 4 dedinhos da mão direita no vão da porta (do lado da dobradiça), bem no meio dos dedos 🙁

eu estava cozinhando, enquanto ele brincava na despensa, como sempre faz. mas pela primeira vez decidiu enfiar seus dedinhos no vão e abrir a porta… até prender.

não consigo esquecer a carinha dele, começando a chorar e me chamando “mamãe, eu prendi os dedinhos na porta…”. eu, desesperada pra ajudar, não percebi que bastava “fechar” ele atrás da porta de novo pros dedos soltarem. fiquei ali, tentando entender o mecanismo, e enquanto isso os dedinhos presos. como não fechei a porta o suficiente pra conseguir soltar, soltei os dedinhos arranhando a parte gordinha. ficou bastante inchado, e arranhou de leve (por sorte não cortou). colocamos gelo, e o pai levou pro PS em pleno domingo à noite. depois do resultado do exame (que não deu nada), liguei pra pediatra, que pediu um exame feito por um ortopedista pediátrico, já que nessa idade os ossos são muito pequenos e maleáveis, não é qualquer médico que sabe avaliar.

fizemos o exame no dia seguinte, e tudo estava bem, tudo perfeito. a mãozinha já tinha desinchado bem, felizmente, e ele amanheceu desenhando e usando a mão normalmente.

mas fiquei de coração partido com ele chorando e olhando a mãozinha, pedindo ajuda e depois reclamando da dor (ou do susto, não dá pra saber direito). fiquei me sentindo culpada, não pelo acidente em si, mas por não conseguir ter sangue-frio suficiente pra ajudá-lo mais rápido e de forma mais eficiente. é como um filme que passa pela cabeça mil vezes depois (“poderia ter feito isso, e aquilo, e aquilo outro…”). tudo inútil, claro.

fiquei pensando em como é difícil esse papel de pai e mãe, de proteger a criança. porque é disso que se trata — nosso trabalho é protegê-lo. e eu falhei. sei que vai acontecer muitas vezes ainda, e que no limite eu não posso protegê-lo de tudo (afinal, ele precisa descobrir os limites do mundo por conta própria também, oras), mas eu queria. sofrimento de filho é pior que o nosso próprio.

e — clichê dos clichês — só agora consigo ter plena empatia pela situação da minha mãe, de 3 crianças muito peraltas. por mais que racionalmente seja possível entender o que passa uma mãe, sua preocupação com os filhos, sem ter filhos esse entendimento racional é basicamente nada. nenhum conhecimento prepara a gente pra tempestade de emoções que é ver seu filho chorando, machucado, com dor. por menor que seja, é muito difícil. antecipo muitos anos de sofrimento compartilhado pela frente, diante das molecagens que ele começou a aprontar…

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e no meio disso tudo, com a mãozinha machucada e inchada, enquanto o pai se vestia para ir com ele ao PS, ele comeu um prato de arroz, feijão, carninha e chuchu. porque era isso que eu fazia enquanto ele se escondia atrás da porta: o jantar.

se comportou como um lorde no exame com a médica plantonista, com o moço do raio-X, com o ortopedista, e com a médica (era retorno de consulta, por coincidência, no dia seguinte). avisou que ela poderia examiná-lo, mas “sem ouvir o coração. não quero o estetoscópio”. a médica, claro, se encantou por ele saber o que é o aparelho, e por falar tão direitinho. nosso menino curioso e louco por palavras difíceis e um tiquinho hipocondríaco 🙂

no final tudo ficou bem, e voltamos à normalidade. mas o primeiro acidente a gente não esquece (eu acho. na dúvida, fica o registro!)

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PS: ele teve um outro acidente (com corte e sangue, no supercílio), mas foi na escola. nós só vimos o resultado, que virou uma cicatriz até charmosinha.

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